quinta-feira, 6 de agosto de 2009
SANTIFICAÇÃO
O que é santificação, e o que não é santificação.
"Sem santificação ninguém verá a Deus". (Hebreus 12:14)
A Salvação é uma ação exclusiva de Deus operada na alma do homem enquanto esse se mantém passivo. O Espírito Santo produz a fé salvadora e habilita o homem a crer, responder e a aceitar o Evangelho da salvação. Por meio dessa fé salvadora, obra do Espírito Santo, temos acesso a Graça de Deus e assim a nossa natureza decaída vai sendo transformada das influências do pecado. Essa etapa da vida cristã, de subjugação do pecado, domínio da vontade da carne, fuga da mentalidade mundana, aspiração das coisas do alto é denominada de santificação.
Este processo é crucial para o cristão, a ponto de encontrarmos esta afirmação nas Escrituras: “Sem santificação ninguém verá o Senhor” (Heb 12.14). Há também a exigência irrenunciável desde o Antigo Testamento: “Sede santos.” Assim, podemos constatar que a santidade é tanto uma necessidade, quanto uma obrigação do fiel. Todos nós devemos colocar a nossa santificação como um programa de vida, como uma busca ininterrupta, como uma maneira de ser e de existir no mundo.
A santificação é o processo de restauração de todas as áreas corrompidas pelos efeitos de nossa depravação total. É um processo que jamais atinge a perfeição nesta vida, mas que nunca pode ser negligenciado ou interrompido. Na santificação as seguintes áreas de nossa vida são atingidas com maior evidência:
1. Os afetos piedosos: passamos a sentir um irresistível amor e alto apreço pelas “coisas de Deus”. Passamos a exercitar a ação de graças com mais alegria e frequência. A presença na Casa de Deus e a associação com os irmãos na fé se tornam aprazíveis.
2. A vida devocional ganha mais profundidade e intensidade. Deixa de ser uma rotina e passa a ser uma real necessidade, como o alimento ou o remédio de uso contínuo. Já não nos satisfazemos mais com estudos superficiais, passamos a querer mais de Cristo e de seu poder.
3. Uma imperiosa necessidade de obedecer e agradar a Deus numa vida íntegra, ética e comprometida com a verdade. A santificação mexe com a nossa escala de valores. Deixamos de nos orientar pelo “todo mundo faz” e mudamos para “o que o Senhor quer que eu faça”. Passamos então a observar, sem mania de perfeccionismo, o sinal vermelho, não parar em fila dupla, pagar em dia as contas, não sonegar imposto, não inventar atestados médicos para ausentar-se sem motivo real do trabalho, passar o cartão no horário, não fraudar concursos, não colar na prova e etc.
4. A santificação mexe também com o nosso humor, leva-nos a uma convivência mais harmoniosa e pacífica com os irmãos. A santificação faz com que deixemos de ser pessoas “problematocêntricas” para sermos úteis, abençoadoras, comunicadores de graça e de vida aos que convivem conosco.
5. A santificação mexe com a nossa vida financeira. Passamos a ter uma relação menos dependente do dinheiro. Passamos a ver a vida com menos glamour e mais responsabilidade. Já não gastamos nosso dinheiro com superfluidades, nem com coisas não necessárias ou essenciais para a nossa vida. Além disso, descobrimos o caminho da partilha, da solidariedade e da generosidade. Passamos a ser uma benção para os pobres, uma força missionária e mais dadivosos e probos nas ofertas e nos dízimos. A Santificação mexe com a nossa mordomia e leva-nos a enxergar a administração de nossos bens como parte integrante do culto que prestamos em espírito e verdade.
6. Em último lugar, a santificação impõe-nos um senso de indignidade, dependência, impureza e pecado que nos constrange à humildade. Uma sensação que nunca é o bastante, nunca satisfeitos com o estado atual de nossa vida espiritual. Mas a santificação verdadeira também é equilibrada e saudável e joga para longe todo masoquismo, todo medo paralisante e todo escrúpulo doentio e perfeccionista. A santificação é na verdade experimentar a liberdade dos filhos de Deus em amor.
Santificação não é ter apenas aparência de piedade
Muitos pensam que ser santo é ter apenas uma aparência de piedade. Vestem-se de modo simples, humilde, não por que não tenham condições de se vestir melhor. Falam baixinho, ficam com o semblante descaído… Outros preferem adotar porte e postura extremados, preocupando-se demasiadamente com medidas. Afirmam que o diâmetro da barra da calça, a largura da gravada e do cinto, bem como a espessura do salto do sapato devem ter “tantos” centímetros, tamanho da barba, corte de cabelo… Seria isso uma demonstração de vida santa?
Em Colossenses 2:20-22, o apóstolo Paulo afirmou que devemos nos precaver quanto aos que ensinam doutrinas de homens, fundamentadas em ensinamentos extremados, como: “… não toques, não proves, não manuseies”. Em Eclesiastes 7.16,17, está escrito: “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas tolo; por que morrerias antes do teu tempo?”
Por ser um tema controverso, surgem inúmeras questões sobre o lado prático da Santificação, por exemplo: O que promove a santificação? A oração? O jejum? A leitura bíblica? A adoração? A obediência? Manter-se separado de outros pecadores? Depende de tempo?
Os teóricos procuram dar uma estrutura à doutrina da santificação: O que é ser santo? O que a palavra santo designa ou descreve? É por graça somente, sem qualquer vinculo com a lei?
Ciente da problemática em torno do tema Santificação e das dificuldades decorrentes das variadas correntes de interpretação bíblica, resta uma pergunta que motivou este trabalho: é possível ser mais santo do que outro irmão em Cristo?
Há quem diga que o crente precisa 'entrar pra valer na corrida para a santificação'.
Como este tema é de extrema relevância para os cristãos, não poderíamos nos furtar em apresentar um trabalho que abordasse este tema, do qual, as várias correntes de interpretação acabaram por tornar controverso.
Nós cristãos precisamos compreender como ocorre a santificação, e por que somos designados santos, para que não incorramos nos mesmos erros do povo de Israel, e de muitos seguimentos religiosos da atualidade: legalismo, formalismo e tradicionalismo.
Santificação não é fanatismo
Há crentes que, quando o assunto é a santificação, partem mesmo para o fanatismo. Certo irmão afirmou que, na vinda de Cristo, os crentes que estiverem tomando banho não serão arrebatados! Por quê? Simplesmente, porque estarão nus! Houve um tempo também em que não se podia usar perfume, pois diziam os que se consideravam santos: “Nós já temos o perfume de Cristo”.
Ora, a nudez condenada por Deus é a que leva à imoralidade, relacionada com a lascívia e com a pornografia. O Senhor também condena a nudez espiritual, isto é, o desprovimento da graça de Deus, ocasionado pela arrogância e pela cega confiança nos recursos humanos, como aconteceu com o pastor da igreja de Laodicéia (Ap 3.17,18). Quanto ao perfume (bom cheiro) de Cristo, o ensino de Paulo é no sentido espiritual (2 Co 2.14-17).
E o televisor? É claro que não aprovamos as programações imorais e tendenciosas que nele são apresentadas. Contudo, trata-se de um aparelho como os demais, como é o computador, o rádio, etc. Alías, falando em rádio, no tempo em que não havia televisor, quem era o vilão? O rádio! Diziam alguns “santos”: “O rádio é a caixa do diabo!” Mas o tempo passou, o mundo evoluiu, e ficou demonstrado que o extremismo não foi o melhor caminho para tratar do tema em foco.
Santificação não é isolamento
A santificação também não é isolamento. Ouvi, certa vez, uma irmã dizendo que, quando ela se consagra, as pessoas não conseguem nem olhar para ela, tamanha a sua santidade! Creio que não andou nessa terra uma pessoa mais santa do que Jesus. E, onde o encontravam, frequentemente? No meio de pecadores (Lc 5.27-32). Ele participou das bodas de Caná da Galiléia, demonstrando ser sociável (João 2.1-11).
Assentar-se na roda dos escarnecedores não é se afastar deles, e, sim, tomar parte em suas prevaricações (Sl 1.1; Is 6.1-8). Como luz do mundo (Mt 5.14-16), que deve brilhar em meio às trevas (Fp 2.15), não podemos nos isolar da sociedade, mas influenciá-la com o bom cheiro de Cristo.
Há, também, em nossos dias, um grupo de pessoas que pensa que santificação é maltratar o corpo, subjugá-lo com sacrifícios exagerados. Mas Deus não se agrada disso (1 Samuel 15.22; Ecl. 5.1). Ele quer obediência aos seus preceitos; é isso que denota santificação verdadeira. Viver uma vida de santificação também não implica viver sem tentação (Mt 4.1-11) nem estar imune ao pecado (1 Coríntios 10.12). Significa, antes, ter poder para dominar o pecado (Romanos 6.14).
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade;
Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2 Tessalonicenses 2:13,14)
A santificação muitas vezes tem seu sentido confundido com ser santo, relativo a sem pecado, coisa que nós não podemos ser (1 João 1:8-10). Somos livres do poder do pecado, mas o pecado ainda permanece presente, no entanto o pecado que antes nos dominava agora é dominado pelo poder de Deus que nos fez nova criatura. (Rom. 8:1-8).
A santificação é definida como sendo “a obra da graça de Deus”, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, e habilitados a morrer mais e mais para o pecado e a viver para Deus.
Ao apresentar, em harmonia com as Escrituras, a santificação como uma obra sobrenatural de Deus, negamos a doutrina Racionalista que a confunde com a mera reabilitação moral. Não é raro que pessoas que levaram uma vida imoral mudem toda a sua forma de viver. Tornam-se externamente corretas em sua conduta, moderadas, puras, honradas e benevolentes. Esta é uma grande mudança, imensamente benéfica para aquele que a experimenta e para todos aqueles com quem se relaciona. Pode ser produzida por diferentes causas, pela força da consciência e por uma consideração da autoridade de Deus e um temor por sua reprovação, ou em consideração da boa opinião dos homens, ou pelo mero vigor de uma consideração iluminada por seus próprios interesses. Mas, seja qual for a causa diferem tanto em natureza como um coração limpo de um vestido limpo.
Esta reabilitação exterior pode deixar sem mudanças o caráter interior do homem aos olhos de Deus. Pode permanecer carente do amor de Deus, da fé em Cristo e de todo o exercício ou afeição santa. A reabilitação exterior pode ser confundida com o novo nascimento em Cristo, a nova criatura, mas não é santificação.
Tampouco se deve confundir a santificação com os efeitos da cultura ou disciplina moral. É bem possível, como o demonstra a experiência, através de cuidadosa instrução moral, mantendo-se longe de toda a influencia contaminadora e conservando-se sob as influencias formadoras de princípios retos e de boas companhias, preservar-se de muitos males do mundo e fazer-se semelhante a um cristão regenerado pelo evangelho de Jesus Cristo. Tal instrução não deve ser menosprezada. É ordenada na Palavra de Deus. Mas não pode mudar a natureza. Não pode comunicar vida. Uma estatua feita de mármore puro em toda a sua beleza esta bem abaixo de um homem vivo.
Na obra da regeneração a alma é passiva, ou seja, não pode cooperar na comunicação da vida espiritual. Mas a conversão, o arrependimento e a fé, são exercícios da alma. Não obstante, os efeitos produzidos na regeneração, novo nascimento e santificação, transcendem a eficiência de nossa natureza caída, e se devem a atividade do Espírito Santo, a santificação é obra sobrenatural de Deus, uma obra da graça.
0 fato da santificação ser uma obra sobrenatural de Deus, demonstra-se:
Com base no fato de ser atribuída constantemente a Deus como seu autor. E atribuída a Deus de maneira absoluta, ou ao Pai, como em:
1 Tessalonicenses 5.23:
"0 mesmo Deus de paz vos santifique em tudo".
Hebreus 13.20, 21:
" Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, Vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre".
É atribuída também ao Filho, como em:
Tito 2.14:
"o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zelo de boas obras".
Efésios 5.25¬27:
"como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santi¬ficasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem macula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito". Predominantemente, a santificação é atribuída ao Espírito Santo.
Tudo o que as Escrituras ensinam acerca da união entre o crente e Cristo, e da habita¬ção do Espírito Santo, revela o caráter sobrenatural de nossa santificação. Os homens não podem se fazerem santos a si mesmos; sua santidade e seu crescimento na graça não se devem a sua própria fidelidade, nem a sua firmeza de propósito, nem a sua vigilância e diligência, embora tudo isso seja exigido, mas se devem a influencia sobrenatural de Deus pela qual eles se tornam assim fiéis, vigilantes e diligentes, e a qual produz neles os frutos do Espírito Santo. “Sem mim”, disse nosso Senhor, “nada podeis fazer”. Assim como o ramo não pode por si mesmo produzir fruto, a não ser que permaneça na videira, tampouco podeis vós, a não ser que permaneceis em mim. A mão não depende menos da cabeça para manter sua vitalidade, que o crente de Cristo para manter a vida espiritual na alma.
Por sua apostasia, os homens perderam a imagem de Deus; nascem em um estado de alienação e condenação. Estão por natureza destituídos da vida espiritual santa. É tão impossível que se libertem, por seu próprio esforço desse estado como os que se encontram nos túmulos possam restaurar a vida seu corpo inerte e, uma vez restaurados a vida, continuem e se revigorem por seu próprio poder. Toda a nossa salvação é de Cristo. Os que se acham nos sepulcros ouvem a sua voz. São ressuscitados por seu poder. E quando vivem, é Cristo quem vive neles. Esta é a doutrina que nosso Senhor mesmo ensina com tanta clareza e frequencia, e sobre a qual seus apóstolos insistem tão energicamente.
Paulo, nos capítulos sexto e sétimo de sua Epistola aos Romanos, onde trata desta questão como prin¬cipal propósito demonstrar que, assim como não somos justificados por nossa própria justi¬ça, tampouco somos santificados por nosso próprio poder. A lei, a revelação da vontade de Deus, inclusive o que ele deu a conhecer ao homem, ou como norma de obediência, ou como exibindo seus propósitos e atributos, era igualmente inadequada para granjear a justificação e a santificação. Uma vez que ela exigia perfeita obediência e pronunciava maldição sobre os que lendo, não obedecessem todas as coisas escritas no livro da lei para pratica-las, não faz outra coisa senão condenar. Nunca pode declarar justo ao pecador. E visto que ela era a mera representação externa da verdade, não podia mudar seu coração da mesma maneira que a luz não pode dar vista aos cegos. O apostolo concluí sua discussão desta questão no final do capítulo 7 de romanos, clamando: "Miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo". Sua libertação tinha de concretizar-se por Deus através de Jesus Cristo.
A luz do capitulo oitavo descobrimos que ele confiava totalmente em sua libertação, bem como descobrimos qual é a base em que essa confiança repousava. Não que houvera ele, na regeneração, recebido forca para santificar-se, ou que pela força de sua própria vontade, ou pelo uso diligente dos meios naturais, o alvo poderia ser alcançado sem mais auxílio divino. Ao contrário, sua confiança fundamentava-se:
(1) No fato de que ele fora libertado da lei, de sua maldição e de sua impossível exigência de obediência perfeita.
(2) No fato de que havia recebido o Espírito Santo como a fonte de uma nova vida, divina e imperecível.
(3) Essa vida não era mero estado da mente, mas a vida de Deus, ou o Espírito de Deus habitando no coração, habitação essa que assegurava não só a continuidade da "mentalidade espiritual", mas também a ressur¬reição dos mortos. Diz o Apóstolo: “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.” (Rom. 8:11)
(4) A santificação e a salvação final dos crentes são garantidas pelo imutável decreto de Deus.
Triplo significado
Sobre a Santificação, Scofield apresenta um triplo significado ao tema: posicional, experimental e consumação. Ele considera que posicionalmente o crente é santo, mas que, experimentalmente, está sendo santificado progressivamente.
A santificação, podemos subdividila em três fases: inicial, progressiva e final. A santificação tem um processo - um ato que é instantâneo e inicial, mas que ao mesmo tempo traz em si a idéia de desenvolvimento até a consumação. De acordo com 2 Coríntios 3:18 estamos sendo transformados de um grau de caráter ou de glória em glória. É porque a santificação é progressiva que somos exortados a continuar progredindo cada vez mais (Apoc. 22:11). Existe realmente o aperfeiçoamento da santidade. O dom de Deus à igreja, de pastores e mestres, tem o propósito de aperfeiçoar os santos na semelhança de Cristo até que, finalmente, atinjam o padrão divino (Efésios 4:11-15).
É comumente aceito que a Santificação é obra continua do Espírito Santo. Esta obra “continua” visa conformar o crente à imagem de Cristo. Tal idéia é proveniente da palavra traduzida por santificação, que deixou o seu significado original ao longo do tempo em segundo plano, e passou a ter inclusa a idéia de moralidade e religiosidade.
Este novo significado que se deu à palavra '”santificação” se deve também à idéia de purificação, e com base em alguns textos bíblicos, podemos afirmar que na santificação ocorre uma transformação moral; com esta idéia afirma-se que a moral e o caráter são elementos que devem ser transformados através de uma busca pela santificação.
Em resumo, as várias teorias existentes sustentam que a Santificação é posicional, progressiva e efetiva no futuro. A santificação posicional é a regeneração em que todos os crentes são separados e purificados por Deus. Isso ocorre imediatamente no momento em que o homem se converte a Cristo.
Apesar de o crente ter sido Santificado por Deus, o Espírito Santo, por sua vez, continua trabalhando na vida deste crente regenerado com o fito de desenvolver um novo caráter e uma nova personalidade: é o que denomina-se de santificação progressiva.
A Santificação efetiva, definitiva ou plena, deve ser aguardada quando da volta de Cristo, quando se dará a plena liberdade do pecado.
Dentre os elementos necessários à Santificação: o Espírito Santo, a união com Cristo, a palavra de Deus, o esforço do cristão, a oração, a disciplina, a obediência, consagração, etc. Para que a Santificação seja aperfeiçoada. O cristão precisa da ação “abundante” do Espírito, senão o crente fica a mercê das fraquezas “morais” e “espirituais”.
A santificação é a obra continua de Deus na vida do crente, tornando-o realmente santo. Por ‘santo’ entende-se como o cristão ‘portador de uma verdadeira semelhança com Deus’. A santificação é um processo pelo qual a condição moral e espiritual da pessoa é moldada de acordo com sua situação legal diante de Deus.
O Dr. Shedd ao falar de aspectos pertinentes a Santificação, apresenta quatro fatores fundamentais: "Em primeiro lugar, ele depende da união entre o remido e o Redentor (...) Segundo: a santidade deve caracterizar o padrão de vida (...) Produzir um hábito de santidade deve ser desafio prioritário do ministério (...) Terceiro: a santificação, sendo um processo, não deve ser encarada como um alvo que algum dia alcançaremos nesta vida terrestre (...) Em quarto lugar observamos a realidade escatológica. A segunda vinda de nosso Senhor promete completar o que a vinda de Jesus Cristo no primeiro século iniciou"
Não podemos levar-mos em conta a idéia de que a 'santificação' engloba apenas questões como 'moral' e 'religiosidade', para não acabar-mos em um grande erro.
Quando da queda do homem em Adão, Deus não levou em conta questões como moral e caráter. Nem mesmo existia a idéia de caráter, moral ou comportamento no Éden.
O homem, quando foi criado, era possuidor de uma natureza perfeita, sendo santo, irrepreensível, inculpável e participante da glória de Deus. Estas características pertinentes ao homem Adão, foram conferidas pela natureza concedida por Deus e não por questões morais, comportamentais ou de religiosidade. Adão e Eva quando desobedeceram a Deus, mudaram de um estado perfeito para uma natureza imperfeita e pecaminosa, sempre com tendência a pecar. A primeira obra que Jesus Cristo faz quando o homem se une a Ele, é a santificação inicial, imediata. A santificação progressiva não pode ir adiante da santificação inicial, ou por a santificação inicial de lado, ignorando-a.
É possível que a Santificação ou a Santidade decorra daquilo que merece e exige reverência moral e religiosa? Muitos ofertam aos seus deuses reverência moral e religiosa, por entenderem que seja isto que tais divindades exigem e merecem, porém, a atitude deles não os santifica.
Da mesma forma os judeus entendiam que Deus exigia e merecia ser reverenciado por meio da religiosidade e moralidade decorrente da lei. Porém, o zelo não mudou a condição deles diante de Deus (Romanos 10.1-4).
Não adianta um caráter impecável, uma moral intocável, um comportamento exemplar, uma religiosidade rigorosa, etc., nenhum destes elementos faz o homem aceitável diante de Deus. Por quê? Porque a obra de Deus é perfeita. Não há como o homem retocar a obra de Deus.
A obra realizada na Regeneração faz com que os homens passem à condição de santos, irrepreensíveis, inculpáveis e participantes da glória de Deus. Ou seja, a obra realizada por Deus é perfeita. Perfeito em Cristo é a condição de santo, irrepreensível e inculpável (Col 1: 21-28).
"Mas todos nós, com o rosto descoberto, refletindo a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" (II Coríntios 3: 18).
Santificação Não É: Erradicação da natureza pecaminosa; perfeição impecável; impecabilidade.
A Bíblia chama Noé (ler depois: Gên 6:9); Jó (ler depois: Jó 1:1); Ló (ler depois: 2Pe 2:7); Davi (ler depois: 1Re 3:6; 9:4; 14:6; 15:3; Ato 13:22); e outras pessoas de "justo", "'integro", "temente a Deus", "perfeito", ou "sem culpa", mas isto não significa que chegaram a ser "absolutamente sem pecado e incapazes de pecar", pois Noé se embriagou vergonhosamente (ler depois: Gên 9:20-27); Jó confessou pecado (Jó 42:6); Ló andou pela vista, quis viver entre homossexuais, embriagou-se e caiu em incesto com as filhas; Davi adulterou, depois providenciou a morte do marido; etc. Contudo não quero que tenho uma interpretação errônea do que foi escrito aqui. Não significa por esses fatos que o homem de Deus peca com naturalidade. (Leia 1 João 1:7-9 / 2:1-2 / 3:6-8)
Deus ordenou perfeição a Abrão (Gên 17:1), aos discípulos (Mat 5:48), etc. Mas se isto significa absolutas perfeição, impecabilidade e semelhança a Deus, então tanto a Bíblia, como nossas próprias experiências [conosco mesmo], como nossas observações de todos os crentes que pudemos observar (bem de perto e longamente) mostram que nenhum crente jamais alcançou cumprir esses preceitos plenamente. Aqueles que se vangloriam da erradicação da sua natureza pecaminosa pretendem e fingem ter alcançado aquilo que Deus [através de Paulo, Tiago e João] ensinou não ser alcançável na presente vida Flp 3:12-14; cf. Tiago 3:2; 1João 1:8-9; ler depois: 1João 2:1.
o contexto de Mateus 5:48 indica que Cristo exorta seus seguidores a serem como o Pai, em mostrar amor tanto aos bons quanto aos maus.
Alguns usam 1João 3:8-9 em suporte da perfeição, da impecabilidade. Mas se estes 2 versos ensinassem isto, contradiriam o que Deus diz na mesma carta 1João 2:1-2. E em 1João 1:7 e em 1João 1:8. O contexto do livro de 1 João refuta toda doutrina da impecabilidade do cristão.
O texto de 1João 3:8-9 pode ser traduzido como presentes contínuos: "Quem comete [costumeiramente] o pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do Diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete [costumeiramente] pecado; porque a sua semente permanece nele, e não pode pecar [costumeiramente], porque é nascido de Deus."
Os mesmos argumentos acima valem contra o ensino da impecabilidade que diz que Rom 6:1-10 ou Gál 2:20) ensina que "já morremos para o pecado no sentido de que já podemos jamais pecar" (alguns loucamente diriam que jamais pecamos, mesmo que pareça que pecamos). Ademais, estes versos se referem a uma experiência factual, objetiva, judicial, posicional, definitiva, infalível, na qual o crente é identificado com Cristo: o instante da salvação.
Antinomianismo
Vista a grosseira heresia dos que pregam que a perfeita impecabilidade é alcançável nesta vida e deve ser a vida cristã normal. A heresia da perfeição impecável finge ter eliminado o pecado da vida do crente, a heresia do antinomianismo delicia-se nele e o cultiva. Ambas heresias claramente contrariam Deus na Sua Palavra: ela ensina que, embora o crente não possa alcançar a impecabilidade nesta vida, deve odiar o pecado; e que, através de cultivada, progressiva santificação, deve anelar e esforçar-se para (e pode conseguir) pecar cada vez menos, nisto sendo feliz e agradando a Deus. Tanto quanto a doutrina da perfeição impecável, antinomianismo é tremendamente anti-bíblico e diabólica.
Deus, muito diferentemente de fechar os olhos e tolerar pecados na vida do crente, definitivamente os proíbe e exige que vivamos uma vida de vencê-los usualmente e cada vez mais. A pergunta "Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?" (Rom 6:1) é respondida da forma mais enfática possível: "De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rom 6:2). Nada mais claro em toda a Bíblia! Lembremos que aqueles que vivem em pecado não herdarão o reino de Deus (1Corintios 6:10). Se sua vida está sendo uma vida caracteristicamente em pecado, então examine-se a si mesmo, pois deve rever seus conceitos de cristão [1Co 5:5]; e se é realmente salvo [1Co 6:10].
Em que Consiste a Santificação
Admitindo que a santificação é uma obra sobrenatural de Deus, permanece a questão: Em que ela consiste? Que natureza tem o efeito produzido? A verdade que sublinha todas as descrições bíblicas deste fato é que a regeneração, a vivificação a qual os crentes estão sujeitos, embora envolva a implantação ou comunicação de um novo principio ou forma de vida, não concretiza a imediata e total libertação da alma de todo o pecado. A alma, por natureza morta em pecado, pode ser ressuscitada juntamente com Cristo, e nem por isso ser perfeita. A alma regenerada convive constantemente com sua velha natureza morta, e o conflito entre a antiga e a nova vida pode ser prolongado e penoso. E este não só pode ser, mas de fato é o caso em toda a experiência do povo de Deus.
Aqui encontramos uma das diferenças características e transcendentais entre os sistemas de doutrina e religião católica e protestante. Segundo o sistema católico, da natureza do pecado nada fica na alma depois da regeneração operada pelo batismo. A luz desse fato, a teologia da Igreja de Roma deduz sua doutrina do mérito das boas obras, da perfeição das obras e, indiretamente, da absolvição e das indulgências. Porém, segundo as Escrituras, a experiên¬cia universal dos cristãos e a inegável evidencia da história, a regeneração não elimina todo o pecado. A Bíblia esta saturada de registro dos conflitos internos dos mais eminentes dos servos de Deus, com suas quedas, seus retrocessos, seus arrependimentos e suas lamentações por seus contínuos fracassos. E não só isso, mas que a natureza do conflito entre o bem e o mal no coração dos renovados é descrita de maneira plena, distinguem-se e designam os princípios em luta e se expõem reiterada e detalhadamente a necessidade, as dificuldades e os perigos da luta, assim como o método para
vence-la de maneira apropriada.
“Digo porem: andai no Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja de vosso querer.” (Gálatas 5.16, 17)
Igualmente, em Efésios 6:10-18, diante do conflito que o crente tem de sustentar com os males de seu próprio coração e com os poderes das trevas, o apóstolo exorta seus irmãos a serem fortes no Senhor e na forca de seu poder.
Despojando-se do Velho homem e Revestindo-se do Novo
Sendo este o fundamento das descrições bíblicas acerca da santificação, sua natureza fica assim determinada. Já que todos os homens estão, desde a queda, em estado de pecado, não só pecadores em virtude de serem culpados de atos específicos de transgressão, mas tam¬bém como depravados, sua natureza pervertida e corrompida, a regeneração é a infusão de um novo principio de vida nessa natureza corrompida. E o fermento introduzido para difundir sua influencia gradualmente através de toda a massa. Portanto, a santificação consiste em duas coisas: primeira, a eliminação progressiva dos princípios do mal que ainda infectam nossa natureza, e a destruição de seu poder; e, segunda, o crescimento do principio de vida espiritual até controlar os pensamentos, sentimentos e atos, e conformar a alma segundo a imagem de Cristo.
OS TERMOS BÍBLICOS
O Antigo Testamento usa três termos que nos ajudarão a entender o assunto: qadosh (santo), qadash (santificar) e qodesh (santidade). Estes termos aparecem quase mil vezes no Antigo Testamento, sendo que a maior parte está no Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia). Qadash tem a idéia de “cortar”, “tirar de algum lugar”. Os usos mais antigos, registrados em papiros, se ligam ao serviço dos operários cortando blocos de pedra nas pedreiras. Por isto muitos definem santidade como sendo “separação”. Mas ninguém corta bloco de pedras apenas para separá-los da pedreira. Eles são cortados para terem uma utilidade. Esta compreensão de apenas separar faria da santidade um conceito negativo, isolacionista. Mas se seguirmos o significado da palavra veremos que santidade não é se isolar de outras pessoas, mas estar em outra esfera de vida. O bloco de pedra não deixa de ser bloco de pedra, mas está em outro lugar. Saiu de onde estava e tem um propósito agora.
O próprio Deus declara que ele é santo (Levítico 19.2). Isto não significa que ele seja isolado. Ele é diferente, mas não isolado. Ele se envolve com as pessoas. Sua santidade está relacionada com seu caráter e não com seu isolamento ou solidão. Deus não é solitário, tanto que busca a companhia dos homens. Assim como ele é santo, seu povo deve ser santo, mostra-nos o texto, mas o povo não deveria se isolar e sim viver de maneira que se ajustasse ao caráter de Deus.
A idéia de “santidade” aplicado a Deus é significativo. O conceito é dinâmico, e não passivo, como se Deus tivesse que se separar para não ser contaminado por qualquer coisa. Dá a idéia da transcendência (ser de outra esfera) de Deus. Mostra que há uma distância entre ele e o homem pecador. Neste sentido, a santidade é a própria divindade de Deus, o que o distingue de nossa humanidade.
A santidade humana pode ser contaminada, mas a divina é absoluta e por isso não pode ser contaminada. O texto de Tiago 1.17 expressa esta verdade muito bem. Deus é tão santo que o mal não tem poder sobre ele.
Ser santo é estar acima da esfera do mundo. 1João 2.15-16 ilustra bem esta verdade. O filho de Deus não deve viver no mundo, um sistema moral corrompido e dominado pelo Maligno, como se lê em 1João 5.19.
AINDA SOBRE A SANTIDADE DE DEUS
Andemos mais um pouco na questão da santidade vendo o caráter de Deus. É que o caráter de Deus é a base para toda a discussão sobre santidade.
(1) Ele é incomparável em sua santidade: Êxodo 15.11 e 1Samuel 2.2
(2) Ela é tão grande nele, que faz parte de seu caráter: Salmo 22.3, Isaías 57.15 e João 17.11
(3) Ela se mostra em suas palavras: Salmo 12.6
(4) Ela é reconhecida por quem entra em comunhão com ele: Isaías 6.3-5
Mas pode se perguntar: se estamos estudando santificação, por que estamos usando tempo para falar sobre a santidade de Deus? Porque a santidade de Deus é a base para a santificação dos fiéis: Levítico 11.44-45, 19.2 e 20.26. Estas passagens em Levítico são importantes. Elas mostram o início do relacionamento de Deus com Israel, depois que o tomou como seu povo. Aqui Deus mostra como seu povo deve ser. Mas isto não se restringiu a Israel e à época do Antigo Testamento, porque a mesma exigência é feita à Igreja: 1Pedro 1.16. Porque a Igreja substituiu Israel e recebe, no Novo Testamento, os títulos que eram de Israel, inclusive o de ser a nação santa: 1Pedro 2.9. Por isto tem a responsabilidade também de ser santa.
Vemos, então, que a santidade de Deus é a base para a santidade dos fiéis, particularmente da Igreja. O povo de Deus deve ter o mesmo caráter moral de Deus.
COMO ACONTECE A SANTIFICAÇÃO?
O Novo Testamento descreve a santificação, primeiro, por um ângulo negativo, ou seja, romper com o erro, fugindo do mal: 2Coríntios 6.14 a 7.1 e 1Tessalonicenses 4.3-7. Isto não quer dizer que ser santo seja ser do contra. Muitas pessoas confundem ser santo com ser emburrado ou ser uma pessoa sempre sisuda. Significa que certas atitudes e determinados comportamentos não são compatíveis com o caráter cristão. É que a conversão nos transporta de um nível de vida para outro, mudando nosso interior e, consequentemente, nossas atitudes. Veja-se isto em Efésios 2.1-3. A santificação é o progresso na vida cristã. É seguir na caminhada com Cristo.
Após o rompimento com o erro e com o pecado, o fiel deve entender e buscar a santificação pelo seu ângulo positivo. Deve ele nutrir a compreensão de que ela é a vontade de Deus para sua vida (1Ts 4.3). Não é uma opção, mas é o propósito divino para cada um de nós. Ser cristão é estar em Cristo e estar em Cristo é ter uma qualidade de vida diferente (2Co 5.17). Depois do aspecto negativo, vem o positivo. Em Efésios 5.1-18 temos uma boa descrição disto que está sendo dito. Ser santo é buscar o caráter de Deus, é procurar ser como ele (v. 1), é não ter mais em sua vida os resquícios do passado (vv. 3-8). O fiel, agora, anda na luz, e deve produzir o fruto da luz: bondade, justiça e verdade (v. 9). Deve encher –se do Espírito e não de vinho (v. 18). Esta palavra de Paulo é bem significativa e deve ser entendida no contexto cultural da época. A embriaguez era uma constante nos tempos antigos (ainda é comum hoje). Estar embriagado significa que a pessoa está controlada pelo álcool. Mas quem deve controlar o fiel que busca santidade é o Espírito Santo e não o álcool. A frase final do versículo 18 é o clímax da argumentação: ser santo é ser controlado pelo Espírito.
É óbvio que esta busca de santificação não deixará de trazer muitas lutas para o fiel. Se o Maligno não conseguiu impedir sua conversão, tentará impedir sua santificação. Um membro de Igreja que tenha uma vida mundanizada é uma vitória do Maligno. E uma derrota para o reino de Deus. A maior parte do tempo de um pastor é gasta com crentes mundanos, com problemas de mundanismo na Igreja, mais do que com busca de alimentação espiritual ao rebanho. Crentes mundanos ocupam a maior parte dos esforços da Igreja. Além de requererem visitação, aconselhamento e trato com luvas de pelica (como são melindrosos os crentes mundanos!), dão mau testemunho e contaminam os demais. São uma lástima!
MAS, O QUE FAZER COM A SANTIFICAÇÃO?
Não conseguindo impedir a conversão da pessoa, Satanás tenta impedir sua santificação. Não conseguindo impedir sua santificação, tenta impedir sua utilização prática. Impressiona ver algumas pessoas que alegam ter passado por uma experiência com Deus e se tornam insuportáveis no relacionamento com os demais. As pessoas mais difíceis de se lidar, numa Igreja, não são os mundanos. São os santos aos seus próprios olhos, aqueles que se vêem como superiores aos demais, do ponto de vista espiritual, e se tornam críticas da vida alheia, e não raro, fofoqueiros de plantão. Santidade não deve ser confundida com soberba espiritual.
Se o conceito de qodesh (santidade) é ser cortado para ter alguma utilidade, qual é a utilidade da santidade, em termos práticos, na vida do crente e de sua Igreja? Cortava-se um bloco para construir alguma coisa. Uma casa, um palácio, um templo. O santo, o qadosh, é alguém separado para construir, e não para destruir. Sua vida deve ser positiva, no relacionamento com os demais. A santificação leva o crente a ser um instrumento para o serviço do Senhor (2Tm 2.21). Ela nunca é uma finalidade para o crente, mas um meio de se preparar para o serviço de Deus. No Antigo Testamento, todos os objetos do culto eram santificados ao Senhor para poderem ser usados. A santificação é para se ser usado por Deus. É triste ver alguém fazendo a obra de Deus no poder da carne. O resultado sempre é frustrante. A derrota é inevitável. A santidade é necessária para o desempenho do serviço cristão.
O PAPEL DE DEUS E O NOSSO PAPEL NA SANTIFICAÇÃO
A santificação imediata e a progressiva
A Bíblia ensina que é Deus quem nos santifica (1Tess. 5.23 / Levitico 20:8/ 21:8). Para isto, ele se vale do processo de nos educar como filhos (Hb 12.5-11). Desejar a santificação e tê-la em nossa vida é obra de Deus (Fp 2.13). Assim ele nos aperfeiçoa cada dia, para fazermos sua vontade e lhe sermos agradáveis (Hb 13.20-21). Esta é a vontade e a obra do Pai.
O Filho conquistou a santificação para nós. É isto que Paulo diz em 1Coríntios 1.30. No processo de santificação, ele é o alvo para o qual devemos caminhar (Hb 12.2). Aqui temos, novamente, o conceito de cristificação. Ser santo significa caminhar sempre na direção de Cristo. Ele é nosso modelo (1Pe 2.21). Ser santo é procurar viver como ele viveu: 1João 2.6.
O Espírito atua em nós para nos transformar e modificar, cada dia. A santificação é obra do Espírito Santo em nós (1Pe 1.12, 2Ts 2.13). É o Espírito quem produz em nós o seu fruto (Gl 5.22), que melhor evidencia nossa santificação. Ser santificado é deixar-se guiar pelo Espírito e andar nele (Gl 5.16-18 e Rm 8.14).
Mas nós temos parte na santificação. Não somos passivos. Nossa parte começa com o fato de que devemos oferecer-nos a Deus para que ela aconteça (Rm 6.13 e 19). O texto de Romanos 12.1-2 vem corroborar isto, lembrando que “corpos” é o grego sôma, que é mais que o corpo físico, designando toda a personalidade da pessoa. A santificação significa dar toda a nossa personalidade a Deus: pensamentos, talentos, jeito de ser, a vida, enfim. Quando deixamos o Espírito agir em nossa vida e mortificamos as obras do corpo, então temos a vida abundante (Rm 8.13). Neste sentido, a santificação é a parte da salvação que nós desenvolvemos (Fp 2.12-13).
A regeneração ou conversão do eleito de Deus, é a primeira grande parte da obra de santificação operada pelo Espírito Santo, porque seria uma coisa inconcebível que o pecador fosse justificado em Cristo Jesus e permanecesse exatamente como dantes, debaixo dos seus antigos pecados. Por isso há um real trabalho de santificação do Espírito Santo no momento mesmo do novo nascimento que transforma o pecador num santo de Deus.
Mas este trabalho de transformação do pecador à imagem e semelhança de Cristo prosseguirá numa segunda obra do Espírito Santo, que não é instantânea como a primeira da regeneração, e que se estenderá por toda a vida do crente, no trabalho progressivo da santificação que começou na regeneração.
E é particularmente a natureza deste segundo trabalho progressivo do Espírito Santo que pretendemos analisar nesta parte do estudo.
Este trabalho da santificação é o complemento do aperfeiçoamento da nova criatura gerada pelo Espírito na regeneração.
E é importante conhecer a natureza deste trabalho do Espírito Santo na santificação progressiva do corpo de Cristo que é a igreja, e particularmente de cada um dos membros que compõem este corpo, para que possamos ser cooperadores na realização deste trabalho, de modo a não ficarmos detidos em nosso progresso por motivo de falsas concepções ou falsos ensinos relativos ao assunto.
Muitos colocam um peso demasiado na responsabilidade do homem neste trabalho, por desconhecerem que a fonte de toda santidade é o próprio Deus, e outros enfatizam a exclusiva operação da graça divina sem o concurso das obras, por confundirem santificação progressiva com justificação e regeneração.
Assim, antes de tudo cabe esclarecer que há atos de Deus na salvação que são exclusivos da Sua graça, sem o concurso das obras, e isto se vê especialmente na eleição que é por pura graça, e também na justificação e na regeneração, sendo que nestas se exige arrependimento, fé e obediência em relação a Cristo e à Palavra, para que instantaneamente se receba a justificação e a regeneração que nos transformam em filhos de Deus e que nos dão o direito de acesso ao céu e sermos livrados da morte eterna, da condenação eterna no inferno, e da escravidão à Lei, a Satanás e ao pecado. Tudo isto é obtido por graça, com o concurso da obediência à Palavra que nos ordena o arrependimento e a fé em Cristo, para que possamos obter tão preciosa salvação, se podemos chamar esta obediência de concurso de nossas obras, porque isto consiste simplesmente no ato de crer e se voltar para Deus, e nos sujeitarmos ao trabalho do Espírito Santo em nossos corações, transformando-nos instantaneamente em novas criaturas.
Agora, há uma ação mais efetiva das nossas obras na santificação progressiva, na recepção das bênçãos de Deus, inclusive aquelas que garantirão os nossos galardões futuros, de modo que além de haver um trabalho da graça nisto tudo que é o elemento motivador da nossa fidelidade, obediência e conseqüentemente de nossas boas obras, há também uma consideração desta nossa fidelidade e obediência a Deus, especialmente aos mandamentos que nos ordena em Sua Palavra, de maneira que sejamos incentivados a permanecer na prática do bem segundo a Sua boa, perfeita e agradável vontade.
Assim, se colocássemos na extremidade de uma gangorra a graça, e na outra a responsabilidade humana, ou nossas boas obras, então esta gangorra estaria desnivelada em muito para o lado da graça, por ser esta infinitamente mais pesada em tudo o que se refere aos atos relativos à salvação, mas a responsabilidade humana estaria exercendo também o seu peso na outra extremidade porque a nossa fidelidade e obediência, em vigilância, perseverança, diligência, com vistas à nossa santificação, também conta e muito neste trabalho progressivo que é realizado pelo Espírito Santo mediante a Palavra de Deus.
Mas é fora de qualquer dúvida, que a inclinação desta gangorra penderia muito mais para o lado da graça, porque por maiores e melhores que sejam as nossas boas obras, elas representam um peso muito menor, diríamos infinitamente menor, do que o da graça, na nossa santificação., de modo que teríamos isto representado graficamente, mais ou menos da seguinte maneira:
Contudo, a par, desta grande diferença de importância que vemos no gráfico, o concurso da nossa diligência, vigilância, perseverança, comunhão, oração, obediência à Palavra, e fidelidade a tudo o mais que se descreve na Bíblia como nossos deveres, é absolutamente essencial para que haja tal crescimento, assim como uma simples pitada de fermento é o que faz crescer toda a massa. Sem o nosso empenho diligente em obediência à vontade de Deus, nenhuma graça será recebida para que este crescimento ocorra.
A natureza desta santificação progressiva pode ser resumida nas palavras do apóstolo Paulo em I Tess 5.23:
“E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tes 5.23).
Paulo proferiu estas palavras depois de ter relacionado na epístola um grande número de deveres particulares dos crentes, indicando que a santificação deles dependeria da sua obediência àqueles mandamentos. E é exposto o motivo desta santificação: estarem preparados para a vinda do Senhor, isto é, o que eles deveriam fazer não seria propriamente para atender à própria vontade e interesse deles, senão aos do Senhor.
Mas este simples versículo, enfatiza que seria o próprio Deus que realizaria este trabalho de santificação completa do espírito, alma e corpo dos crentes de Tessalônica.
A versão Almeida atualizada traz: “vos santifique em tudo”, em vez de “vos santifique completamente”. Mas este “em tudo” ou “completamente”, não se referem às partes citadas posteriormente pelo apóstolo, a saber, corpo, alma e espírito, porque há uma separação de pensamentos pela conjunção “e” (kaí) entre o que foi dito antes quanto o modo da santificação que deve ser completa, total, perfeita, e as áreas da vida em que ela deveria ser operada por Deus, no homem todo: corpo, alma e espírito.
E é importante citar que o pensamento de uma santificação completa é destacado no original grego com o uso da palavra oloteleiv que no grego significa perfeito, completo em todas as suas partes, e esta palavra está ligada ao verbo santificar (agiasai), que se encontra na voz ativa do tempo aoristo, que indica uma ação que não foi completada, e que ainda permanece em progressão. Por exemplo: santificou indica uma ação completa. Mas santificando, indica algo que deve ser feito progressivamente.
E uma outra palavra de significado parecido ao da palavra oloteleiv, é usada pelo apóstolo para dizer quais as partes do corpo, da alma e do espírito deveriam ser assim santificadas completamente. Esta palavra é oloklhron, que significa íntegro, inteiro, quanto a uma purificação sem mancha ou defeito. Então a vontade de Deus para conosco é a de uma santificação completa que atinja todas as áreas da constituição humana, na plenitude de todas as suas partes, tanto interiores quanto exteriores, visíveis, quanto invisíveis, conscientes, quanto inconscientes. O que está em foco nesta santificação é a pessoa toda, e todas as suas faculdades operantes em todas as partes constituintes do seu ser, quer físicas, mentais, espirituais, emocionais, sentimentais. Nada em absoluto poderá ficar de fora deste trabalho do Espírito Santo na reconstrução da nova criatura à imagem de Cristo, até levá-la à plenitude desta imagem, a saber à estatura de varão perfeito, que é a estatura do próprio Cristo, a ponto de se poder dizer: ”já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
E esta santificação, apesar de ser um dever para todos os crentes, entretanto não se encontra no próprio poder deles para ser realizada, porque a quase totalidade deste processo, como tudo o mais na salvação é dependente da graça de Deus e do Espírito Santo, daí se dizer “Pai santifica-os” e “Eu sou o Senhor que vos santifica”. (João 17:17/ Levitico 20:8/ 21:8) Este trabalho é basicamente de Deus e não do homem. Apesar de, como vimos antes, ter um grande peso neste processo a pequena e falha parte da participação da responsabilidade humana neste processo, ao lado da perfeita infalível ação da graça divina, porque, como já dissemos antes, se o peso infinitamente maior é da operação da graça de Deus, não obstante, nenhuma graça operará em nós se não houver diligência, vigilância, e perseverança, da nossa parte, nos deveres ordenados pela Palavra, e que são relativos à nossa santificação.
Assim a nossa obediência e fidelidade a Deus, mediante prática da Palavra de Deus é essencial para o recebimento desta graça, sem a qual o trabalho não poderá ser feito. Ninguém se iluda portanto que é possível ser santificado por Deus sem esta diligência nos deveres ordenados na Palavra.
Aqueles que pensam que podem santificar-se a si mesmos sem o concurso de Deus e da Sua graça incorrem numa grande ilusão e erro, e se encontram numa postura orgulhosa que afasta a graça de Deus, e isto é uma afirmação arrogante de que não dependem dEle.
Devemos evitar a todo custo o grande erro do pelagianismo, porque apesar de Pelágio ter declarado que a santidade é de Deus, no entanto, ele, e muitos dos que o seguem na sua maneira prática de ver e agir, fazem todo o trabalho de santificação depender do próprio esforço pessoal deles, à parte de um trabalho da graça, porque não buscam isto por um andar contínuo no Espírito, senão em tentativas de aplicação dos mandamentos da Palavra de Deus segundo o homem natural e não segundo o homem espiritual, criado em Cristo Jesus. Isto é o que gera tantos legalistas na igreja, porque eles se iludem com a sua forma externa de santidade, que não chega a produzir uma verdadeira transformação em suas atitudes e hábitos, porque o trabalho não é feito no coração deles, porque obstruem e impedem totalmente qualquer ação do Espírito Santo neste sentido.
E como poderemos ter nossos pecados perdoados se não confiamos no sangue de Cristo e no trabalho da graça de Deus e do Espírito em nossos corações para termos os pecados perdoados e sermos purificados de toda injustiça, se confiamos que podemos, nós mesmos, purificarmo-nos de nossas transgressões, pelos nossos próprios esforços e méritos? Isto é uma grande afronta a Jesus, ao Seu sacrifício por nós, e ã Sua honra como sacerdote, profeta e rei de nossas almas.
Por isso, não é sem motivo que a justificação e santificação são geralmente associadas à paz. Neste texto de I Tes 5.23, a santificação está associada à paz, porque Paulo diz: “o Deus de paz”. Isto porque a santificação produz paz. E não uma paz qualquer, mas a paz que procede de Deus. Condição que é resultante da paz com Ele, em razão deste trabalho de destruir o pecado, que é o que desperta a ira de Deus e que afasta a Sua santa presença de nós. Então uma vez tratado o problema do pecado, através do arrependimento, da confissão, do quebrantamento em Sua presença, e do trabalho de santificação em purificação de nossos corpos, almas e espíritos, então o que se há de experimentar como resultado será a paz com Deus. E esta paz é efetivamente infundida em todas as áreas do nosso ser, de maneira que podemos experimentar o poder real do Senhor em trazer alívio e descanso às nossas almas. E os efeitos desta paz são percebidos e sentidos em nossos próprios corpos e mentes. Deus deixa sempre uma bênção atrás de si quando nos consertamos na Sua presença. Ele cumpre a promessa de sarar a nossa terra quando aplicamos com sinceridade o que Ele nos ensinou em II Crônicas 7.14:
“e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” (II Crônicas 7.14).
Assim, devemos buscar a santificação porque um dos resultados dela é esta paz com Deus e uns com os outros. Se amamos a paz que é fruto do Espírito e se somos chamados a esta paz, devemos então estar conscientes que nunca poderemos ter isto sem santificação. E a igreja depende vitalmente disto, porque sem a paz e sem almejar a paz, não valorizaremos a santificação o tanto quanto ela deve ser valorizada, porque um dos efeitos imediatos dela é esta paz com Deus, porque Ele demonstrará a Sua satisfação em relação a nós, por causa de estarmos atendendo o Seu desejo para conosco, que é afirmado expressamente na Palavra, como sendo a nossa santificação. E o fruto da paz será a comunhão com Deus e com os irmãos, e é a este fruto da santificação na vida que o apóstolo João se refere na sua primeira epístola:
“ Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade; mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.” (I João 1.6,7).
E esta paz é também objetiva quanto a nos livrar da condenação futura, porque ela põe um ponto final na guerra que Deus tinha conosco, por sermos pecadores. E daí se dizer que pela justificação pela fé obtivemos esta paz com Deus por meio de Cristo Jesus (Rom 5.1). Mas esta paz objetiva, como vimos foi devida à justificação. Mas agora dependemos da paz subjetiva que é operada pela nossa santificação. Porque esta trata dos nossos pecados diários e nos habilita a continuarmos mantendo comunhão com Deus.
O Espírito de Deus é chamado de Espírito Santo porque Ele é o autor de toda a santidade em todos aqueles que são feitos dela participantes.
Nosso dever principal neste mundo é, saber o que é ser santo corretamente, e assim realmente ser.
O que não é realmente santo não verá a Deus, e a Bíblia é muito clara e direta quanto a isto. Pois não existe um lugar intermediário para as almas serem aperfeiçoadas depois da morte. Não há purgatório. Há depois da morte somente dois lugares para o destino dos espíritos desencarnados: ou céu ou inferno. Na parábola de Lázaro e o rico Jesus deixou bem claro que aqueles que se encontram no paraíso celestial não podem passar para o inferno, e nem os que se encontram no inferno passarem para o céu, porque o admitir tal possibilidade seria admitir que Deus possa errar no Seu juízo destinando almas que não deveriam ir para o inferno e que acabaram lá se encontrando, ou o oposto a isto em relação ao céu.
“4 Ouvi outra voz do céu dizer: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.
5 Porque os seus pecados se acumularam até o céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela.” (Apocalipse 18:4,5).
Não será a boa educação, nem virtudes morais que poderão livrar os homens de tal juízo, senão uma verdadeira santificação operada pelo Espírito Santo. Enganam-se a si mesmos todos aqueles que pensam que estão fazendo um grande favor a Deus por não roubarem, matarem, adulterarem, porque isto é dever de todos os homens, e dizemos que não há nenhum mérito nisto porque pensar que a santidade do Deus Altíssimo, Todo-Poderoso consiste no trapo da justiça humana, é rebaixar, menosprezar o que é realmente esta santidade divina, de modo que isto não deixará de ter a devida paga no juízo.
Por isso é absolutamente essencial investigar, empenhando nisto toda a nossa diligência, qual seja a verdadeira natureza da santificação, para que não sejamos enganados com aquelas coisas que têm uma aparência de santidade, mas que na verdade nada têm a ver com a sua verdadeira natureza. E com isto poderemos estar comprando gato por lebre, e ficarmos satisfeitos com aquilo que não pode produzir a verdadeira satisfação tanto em nossas almas, quanto no coração de Deus. Mas não é apenas uma simples questão de satisfação que está envolvida no assunto da santidade, porque há danos sérios que podem ser experimentados por todos aqueles que estiverem trilhando caminhos falsos e enganosos que nunca nos levarão a achar o lugar onde se encontra esta pérola preciosa da santificação.
E este caminho é conhecido senão pelo próprio Senhor. Eles estão ocultos ao olho natural e à compreensão carnal. Nenhum homem pode pelo seu simples entendimento conhecer e entender a verdadeira natureza da santidade bíblica, e não é de se admirar que esta doutrina da santificação seja menosprezada por muitos como sendo uma fantasia e algo inatingível. Como isto não pode ser conhecido se não for experimentado e vivido, então, voltamos a dizer não é para ficarmos admirados com o fato de existir tanta ignorância quanto à natureza da verdadeira santidade. O humilde e obediente à vontade de Deus chegará a conhecer isto porque Ele dá graça e entendimento aos que se humilham e que Lhe obedecem. Mas o orgulhoso, o que não se negar a si mesmo, o que não tomar a cruz, o que se estriba na sua própria sabedoria e conhecimento, jamais chegará a entender e a viver a verdadeira santidade.
E é aqui que devemos voltar ao texto de 1 Cor 2:11-15, para lembrarmos que coisas espirituais se discernem espiritualmente pela operação do Espírito Santo. Não são então propriamente do domínio do puro e próprio conhecimento racional do homem, mas da esfera da revelação sobrenatural do Espírito Santo.
Não nos admiremos portanto de serem os legalistas, que não se sujeitam ao trabalho da graça pelo Espírito Santo em suas vidas, exatamente aqueles que são os inimigos mais ferozes e implacáveis da verdadeira santidade bíblica, que aponta para o grande peso da graça divina em santificação, conforme provamos pela ilustração gráfica da gangorra onde contrapomos o peso da graça com a responsabilidade humana.
E não é de se admirar também que os próprios crentes de um modo geral, sejam freqüentemente alheios a isto, quanto à apreensão deles da verdadeira natureza da santidade e dos seus efeitos na vida. Geralmente eles se contentam com o trabalho inicial de santificação que ocorreu no dia da sua justificação e regeneração, quando tiveram um encontro pessoal com Cristo, mas não fazem muito progresso em santificação porque isto não somente exigirá deles grande empenho em diligência, como também um completo reconhecimento da dependência da graça de Deus, sujeitando-se efetivamente ao trabalho do Espírito Santo, na transformação e purificação progressiva de todas as áreas de suas vidas, especialmente do coração.
Santificação é uma obra do Espírito de Deus no corpo, alma e espírito do crente, purificando e limpando a natureza dele da poluição e da impureza do pecado, renovando no crente a imagem de Deus, e o habilitando assim, a um princípio espiritual e habitual de graça, para poderem obedecer a Deus, segundo o teor e mandamentos da nova aliança, em virtude da vida e morte de Jesus Cristo.
“ Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro; Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.” (I Pedro 1.22, 23).
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” (Filip 1.6/ Ef 3.14-17/ I Tes 3.12,13/ II Pe 1.5-7).
Então em santificação progressiva a diligência, a vigilância, a oração, a meditação na Palavra, dentre outras coisas, devem estar se tornando um hábito, de modo que possamos saber que estamos de fato sendo santificados. Onde falta este hábito, o progresso em santificação não pode estar sendo verdadeiramente efetivo, porque ela sempre haverá de conduzir em seus resultados a esta condição habitual de pensarmos e agirmos em conformidade com estes padrões divinos de comportamento que serão corroborados, fortalecidos, no homem interior, a saber, no nosso espírito. (II Cor 7.1/ Ef 4.12/ Hb 13.21/ I Pe 5.10)
Estes hábitos espirituais de fé e de amor, crescem e progridem através do seu exercício. Assim como não se pode aprender a tocar música a não ser pela repetição da aprendizagem até a formação do hábito de tocar, e este exercício deve continuar para a manutenção e o aperfeiçoamento musical, de igual modo a santificação não pode ser operada devidamente sem esta repetição em contínuos exercícios dos deveres ordenados a nós na Palavra de Deus. Eles devem ser aprendidos e exercitados continuamente, se desejamos de fato ser santificados pelo Espírito. (II Tim 3.16, 17)
Alguém indagará: “qual é a importância prática de se conhecer a natureza da santidade?”.
Sabendo que o Deus que é perfeitamente sábio e poderoso, prometeu realizar este trabalho de santificação em todos quantos se dispuserem a obedecer a Sua vontade e confiarem inteiramente nEle para a realização deste trabalho, enquanto vão sendo progressivamente iluminados pelo Espírito a entenderem as coisas que lhes são ordenadas na Bíblia, para colocá-las em prática em suas próprias vidas, especialmente aquelas que dizem respeito à purificação de seus corações de toda impureza e pecados. E conhecendo-se a verdadeira natureza da santidade, não seremos iludidos por aquelas coisas que fingem ser esta santidade bíblica, cristã e que na verdade não são, e que têm iludido e enganado uma grande multidão de pessoas. Nós aprendemos que a santificação depende da nossa diligência em obediência, mas é sobretudo uma obra nova, maravilhosa, sobrenatural, e que é conhecida e realizada através de revelação sobrenatural, procedente de Deus, porque Ele é a fonte de toda verdadeira santidade. É Ele quem pode tornar um coração verdadeiramente puro, e dar paz verdadeira às nossas almas. Remover todo mau temperamento e encher-nos de gozo, amor e alegria espirituais indizíveis que nos levam automaticamente a ter comunhão com todos os nossos irmãos que estejam vivendo a mesma experiência que nós. E é importante saber sobre a natureza da verdadeira santidade biblica, porque é por meio deste conhecimento que podemos entender que uma verdadeira santidade sempre produzirá os bons frutos espirituais esperados por Deus dos Seus filhos. É a santificação quem permite que as nossas boas obras sejam de fato obras da fé. Obras resultantes do poder operante do Espírito Santo em nós. Então se há falta destes frutos, é para se desconfiar do tipo de santificação que temos perseguido. Se ela não conduz à paz, à comunhão, ao amor, e a esta frutificação referida, então é para desconfiarmos, e corrigimos o nosso rumo, através da busca do conhecimento do que seja a verdadeira natureza da santidade, para que não nos enganemos mais em nossos esforços em santificação.
Muitos têm parado na justificação e na regeneração, como já comentamos anteriormente, muitas vezes, por uma má compreensão quanto à aplicação de determinadas passagens bíblicas, que parecem indicar que a justificação e a regeneração são o tudo do propósito de Deus em relação aos crentes, quando isto não é de modo nenhum verdadeiro, porque há muitas outras passagens bíblicas que afirmam a necessidade da santificação progressiva que deve se seguir à regeneração e que deve ser contínua e duradoura por toda a vida.
Por exemplo, quando lemos Rom 4.2-8:
“2 Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus.
3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;
6 assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.” (Rom 4.2-8).
O que muitos concluem destas palavras?
Eles afirmam que não é necessário obras de justiça da parte do crente porque o texto aqui é muito claro e fala a respeito disto. Mas nós perguntamos a estas pessoas: “sobre o que o apóstolo está falando, sobre justificação ou santificação?”. A resposta está no próprio contexto, pois ele afirma que Abraão foi justificado pela fé nos versos 2 e 3. Então ele está falando do modo da justificação que é realmente somente pela fé sem o concurso das obras.
Mas, nesta mesma epístola aos Romanos ele vai falar também sobre o dever da santificação, que é um trabalho diferente da justificação e que deve se seguir a ela, e então aqui ele destaca a necessidade das obras juntamente com a fé e o trabalho da graça, para a santificação:
“12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?
17 Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniqüidade para iniqüidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação..” (Rom 6.12-19).
Em toda esta passagem ele está falando de santificação e não de justificação, e demonstra claramente que além desta justiça de Cristo que nos foi imputada para justificação, nós precisamos desta justiça que é infundida pelo trabalho progressivo do Espírito Santo, no qual há também o concurso das nossas obras de justiça, sem as quais não haverá nenhum trabalho da graça em santificação, porque esta graça será derramada por Deus conforme a nossa disposição em obedecer a Sua vontade, e que o apóstolo define pela expressão de apresentar nossos membros a Deus para serem usados por Ele para o fim da nossa santificação.
A Santidade da igreja e a sociedade.
A santificação pode conduzir a uma melhor ordem social no meio em que vivemos, mas não deve ser esse o objetivo do crente em Deus na busca da santificação.
A natureza desta santidade é segundo o reino de Deus e não segundo os reinos deste mundo, isto é, ela visa a um sistema que não é segundo o homem e nem segundo o mundo, mas segundo Deus e a um sistema de governo celestial. De modo que a santidade bíblica está destinada a crescer até à perfeição, sem mancha, ruga ou qualquer defeito, porque o fim que se tem em vista é o de que os súditos deste reino celestial possam viver em perfeita harmonia e paz e justiça e amor, por toda a eternidade.
“Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu reino não é daqui.” (João 18.36).
Assim toda a santidade que os crente possam obter neste mundo não tem por principal objetivo capacitá-los a mudarem a ordem do sistema mundial, ou conduzir os crentes ao poder, antes de que Cristo volte para estabelecer o Seu governo eterno.
“E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” (I Cor 13.3).
Então esta santidade bíblica não consiste em nenhuma ação benemérita que o mundo considere elevada porque ela é muitíssimo mais elevado do que isto em sua natureza. O cristão santo e que se conduz com santidade e em boas obras, não pode ficar a espera de elogios do mundo (embora isso seja inevitável) e de recompensas do mundo, mas em uma recompensa eterna, nos céus.
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas, interiormente, estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.”
“E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largas filactérias, e alargam as franjas dos seus vestidos”
“E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé, nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.”
(Mateus 23:5,27/ 6:5)
A santificação progressiva é feita em graus, no homem interior, que é reconstruído dia a dia:
“Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia. “ (II Cor 4.16).
“e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Col 3.10).
E especialmente em Ezequiel 36.25-27, está indicado este trabalho de santificação pelo Espírito, como consistindo basicamente na transformação e na purificação do nosso coração. O coração de pedra transformado em coração de carne indica a regeneração. E a purificação do coração indica o trabalho progressivo da santificação em graus.
“Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei
Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.” (Ezequiel 36.25-27).
Mas é o todo da nossa santificação que está incluído nestas promessas. Ser limpo das corrupções do pecado, de todos os ídolos, que representam o nosso apego às coisas vãs e passageiras deste mundo, e ter uma nova disposição de espírito segundo Deus pelo recebimento de uma nova natureza espiritual, real e verdadeiramente nova, e um coração quebrantado inclinado e disposto para temer a Deus, do modo devido, segundo um andar dirigido pelo Espírito nos mandamentos de Deus.
Era com fé nestas promessas que o apóstolo Paulo orava pelos Tessalonicenses para que o Deus de paz os santificasse completamente, de modo que eles fossem conservados plenamente irrepreensíveis em seu espírito, alma e corpo (I Tess 5.23), e no verso seguinte ele declara a sua plena confiança que Deus realizaria neles este trabalho de santificação:
“Fiel é o que vos chama, e ele também o fará.” (I Tess 5.24).
COMO ALCANÇAR A SANTIFICAÇÃO?
Se falhou em impedir a conversão do fiel, se falhou em impedir sua santificação, Satanás tentará impedi-lo de seguir o caminho certo e lhe mostrará atalhos pelos quais enveredar. Há hoje uma oferta incrível de atalhos: liturgia barulhenta, novos modelos de igreja, doutrinas novas, etc. Mas há algo que deve ser dito: não há atalhos para a santificação. O caminho correto passa pelas seguintes atitudes:
(1) A vontade, colocada pelo Espírito Santo, na medida em que nos entregamos mais e mais a Deus, como já se comentou anteriormente. É preciso querer. Ninguém é salvo contra sua vontade. Da mesma forma, ninguém é santificado contra sua vontade.
(2) A leitura da Bíblia e a meditação em seu ensino, não a mera leitura, como quem lê um romance. Não se preocupe em ler a Bíblia toda em um ano. Preocupe-se em ler todos os dias, e aplicar cada dia o que leu. Você não pode comer por um ano e parar. Precisa comer cada dia. Alimente-se espiritualmente da Palavra, todos os dias, medite nela todos os dias, aproprie-se dela todos os dias. Veja os textos de Salmo 1.2, Mateus 4.4 e João 17.17. A Bíblia é a Palavra de Deus e ninguém pode descobrir a vontade de Deus sem lê-la com fome, e aplicá-la na sua vida.
(3) A oração é indispensável ao crescimento espiritual e à santificação. Veja Efésios 6.18 e Filipenses 4.6-7. Na leitura da Bíblia, Deus fala conosco e através da oração podemos abrir o coração com Deus e falar com ele. A oração é a janela da nossa alma que se abre para Deus.
(4) A adoração a Deus, no culto público, é indispensável. Veja e reflita bem sobre Efésios 5.18-21. A atitude de adoração ali prescrita implica em relacionamento com os demais. Participar dos cultos é um elemento poderoso na santificação. É como a história do carvão e da brasa. Tire uma brasa da fogueira e ela se apagará, virará um carvão. Ponha um carvão junto às brasas e ele se acenderá. Um dos primeiros sintomas de frieza espiritual e de queda no relacionamento com Deus é a fuga dos cultos. Poucas desculpas são mais descoradas do que aquela de “estou sem ir à Igreja, mas mantenho minha relação com Deus no mesmo nível”. A Bíblia nos exorta a não deixarmos de participar dos cultos: Hebreus 10.19-25. Preste atenção que entrar na presença de Deus leva a pessoa a considerar os irmãos e dar e receber admoestação deles, sem deixar as reuniões de culto.
(5) O testemunho nos ajuda a fortalecer a fé. Quando Jesus nos exortou a testemunharmos (Mt 28.19-20) não foi apenas para que as pessoas se convertessem. Testemunhar é o exercício da fé. Se a Palavra, a oração e o culto nos alimentam, o testemunho nos faz exercitar-nos. Evita a má saúde. Quem só come e não se exercita pode ter problemas.
(6) A autodisciplina ou o domínio de si mesmo é algo indispensável na busca da santidade. É mortificar-se cada vez mais e procurar ser como Cristo. Leiamos Gálatas 5.23-24 e Tito 1.8 (na palavra “temperante”). Este último versículo alude às virtudes do bispo, mas deve-se notar que, no Novo Testamento, o que se pede da liderança é o que se pede de todos os crentes, pois não há um clero e um laicato. Todos somos iguais diante de Deus, no Novo Testamento.
(7) O companheirismo cristão é um outro elemento muito forte. Veja 1Tessalonicenses 5.12-23. Alguém disse que “a Igreja é o único exército que atira em seus próprios soldados”. É verdade! Como os crentes falam mal uns dos outros! Como se criticam! A mutualidade é um elemento muito forte no processo de santificação. Faz com que aprendamos de nossos irmãos e faz com que nos exercitemos. Somos fortalecidos na fé pelo companheirismo. Veja o porquê do desejo de Paulo em conhecer os crentes de Roma: Romanos 1.11-12.
“Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação:que vos abstenhais da prostituição,”
(I Tess 4.3).
“2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos.
3 E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” (I João 3.2,3).
Assim esta santificação é o grande privilégio dos crentes, e se a segurança eterna deles depende absolutamente disto, porque se exigirá evidência de santificação para que se possa ver a Deus, então empenhemos toda a nossa diligência para procurar entender a natureza e a necessidade da santificação, examinando com vívido e reverente interesse tudo o que a Bíblia nos ensina sobre isto.
Deus é a fonte eterna de toda a santidade e então é somente nEle que poderemos achar a fonte desta graça, e não em qualquer criatura, porque toda a santidade que possa existir no céu e na terra, terá sido recebida de Deus, que é a sua fonte.
A VERDADEIRA SANTIDADE
Enquanto tentarmos produzir a santificação de nossas vidas, agindo de acordo com aquilo que imaginamos ser a verdadeira santidade, geralmente, o que obteremos será uma falsa e grosseira imitação da verdadeira santificação, que é produzida exclusivamente pela transformação, instrução e poder operados pelo Espírito Santo.É somente quando nos rendemos a Deus e à Sua vontade, que conhecemos que não há em nós mesmos nenhum poder ou mérito para nos santificar, e que somente Ele pode completar a boa obra que começou em nós desde o dia da nossa conversão a Cristo.
Assim, a santificação verdadeira não pode ser definida como sinais de pobreza, simplicidade e humildade ou como sendo as conquistas materiais pregadas por neo-pentecostalismo, que são duas formas opostas de expressão religiosa.
Nem tampouco pode a santificação ser definida pelo cumprimento de ritos e cerimônias, por obras de mero caráter humanitário e social, ou por tudo o mais que possa ser iniciado e concluído pelo próprio homem, sem a intervenção sobrenatural de Deus.A repetir que a verdadeira santificação implica, sobretudo na transformação pessoal operadas pelo poder do Espírito Santo, e que isto ocorre efetivamente depois que nos rendemos à vontade de Deus, posto ser uma obra sobrenatural que nos vem do alto, a saber, dos poderes e dons procedentes do céu.Temos, portanto, na verdadeira santificação, uma luta a ser travada contra nós mesmos. Contra o nosso ego e vontade. Porque, enquanto estes estiverem no comando, pouco ou quase nada nos valerá a graça de Cristo. E quem pode, por si mesmo, vencer a sensualidade que opera na sua própria carne?O que podem realizar as práticas ascéticas e religiosas contra a sensualidade?
O fogo do pecado arderá no altar do coração corrompido enquanto não estiver sendo apagado pelo poder do Espírito e substituído pelo fogo purificador da santificação.
Vemos assim, que todo o nosso esforço em mudança de comportamento será ainda muito pouco para o objetivo da santificação, ou até mesmo nada, caso tal esforço se refira ao cumprimento daquilo que seja mero fruto de nossa imaginação quanto ao que seja ou não da vontade de Deus em relação a nós, uma vez que tais pensamentos podem não conferir com as realidades que se encontram na pessoa de Deus e nos Seus mandamentos.
Necessitamos da iluminação, da instrução e do poder do Espírito Santo, para entendermos e vivermos a letra das Escrituras, senão podemos incorrer no erro que é muito comum de atribuir significados ao ensino da verdade revelada na Bíblia que não se condiz com as realidades às quais se referem, tal como se encontram na vontade imutável de Deus.
Deste modo, nada adianta tentar fugir da tentação da prática de impurezas enquanto o Espírito Santo não estiver trabalhando diretamente na fonte da tentação que opera na carne, destruindo o seu poder e influência, de modo que o coração seja completamente consagrado a Deus e já não se tenha mais sequer a curiosidade para praticar aquilo que é sensual, pecaminoso e impuro, enquanto debaixo de tal influência e poder do Espírito.
Isto não se obtém somente por se orar e meditar na Palavra de Deus, mas em se deixar vencer pelo Espírito Santo, de modo que sejamos conduzidos pelo seu poder, influência e instrução.
Com isto, e somente com isto, não fugiremos mais das realidades terríveis que nos cercam por todos os lados neste mundo, nas mais variadas formas de expressão do pecado, porque estando debaixo de tal direção do Espírito, elas não têm poder sobre nós para desviar o nosso coração daquilo que é bom para aquelas coisas que são contrárias à vontade de Deus.
Enquanto andarmos no Espírito, debaixo do verdadeiro temor de Deus, o qual consiste principalmente em guardar os Seus mandamentos, com um sincero desejo de nunca desagradar a Deus, podemos estar certos de que contaremos com as bênçãos do Senhor, ainda que venhamos a errar eventualmente, porque Ele não age conosco com base na nossa perfeição, a qual, sabe que não existirá enquanto estivermos neste corpo de carne, mas sempre com base na Sua graça e misericórdia.
Vemos deste modo, que a verdadeira santificação não consiste em ritos e cerimônias religiosas, mas em vida e bênçãos de procedência sobrenatural e divina.
Deus não nos revelou mandamentos que sejam a mera expressão de uma religião, mas coisas que se referem à vida ou à morte; à bênção ou a maldição; sendo que teremos vida e bênçãos somente quando escolhemos fazer a vontade de Deus.
É somente assim que se pode ter um verdadeiro e sincero amor pelos pecadores, e que nos tornamos úteis para ajudá-los porque já não seremos mais seus juízes, acusadores ou condenadores, cônscios de que nada poderão fazer para andarem na verdade e no amor, a menos que sejam alcançados pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo, por se sujeitarem ao trabalho de santificação que é operado pelo Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus em nossas vidas.