São muitas as histórias do Antigo Testamento (AT) que soam mais como fábulas do que como realidade. Um exemplo disso é o relato da cidade de Sodoma, uma das cinco cidades da campina do Jordão que Ló escolheu para habitar (Gn 13:10-13). É importante notar que boa parte das vezes em que ela é mencionada no texto uma nota negativa a acompanha (Gn 13:13; 18:20; 19:5, etc.), e todas elas se referindo a problemas de comportamento moral e sexual. Isso é tão verdade que na língua portuguesa a palavra "sodomia" traz a idéia de aberração sexual. Essa palavra veio do nome Sodoma.
Os profetas que se levantaram ao longo da história do povo de Israel viam a história de Sodoma como real (Am 4:11), e também o próprio Jesus mencionou algo a respeito dela (Mt 10:15). Qual o valor de uma lenda numa sentença de juízo? Em outras palavras, que diferença faria a história dos três porquinhos na repreensão de um pai a seu filho de 25 anos?
Os autores bíblicos criam nessa narrativa. Mas será que só a Bíblia menciona uma cidade que foi destruída por causa do seu pecado? Os achados arqueológicos sugerem algo sobre esse tema? Há evidências de uma cidade chamada Sodoma fora das Escrituras? A resposta é sim, existe!
Em meados dos anos 1960, G. Pettinato e P. Matthiae foram os responsáveis pela descoberta da antiga cidade de Ebla (Tell Mardikh), a principal cidade síria do III milênio a.C. Como toda grande cidade do passado, Ebla possuía uma vasta biblioteca de aproximadamente 17 mil tabletes cuneiformes. Um desses tabletes foi publicado por Pettinato em 1976, e revelou algo surpreendente. A inscrição falava sobre cinco cidades: Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar. A mesma seqüência que aparece em Gênesis 14:2 e 8.
Ebla era um grande centro comercial, mantinha relações econômicas com diversas cidades do antigo Oriente Médio e foi destruída pelo rei Naramsin de Akkad, por volta de 2300 a.C. Assim, fica demonstrado que existia uma cidade chamada Sodoma no mesmo período em que a Bíblia a situa.
E quanto à sua localização geográfica? As Escrituras fornecem algumas pistas sobre sua posição. Em Gênesis 14:3, lemos que Sodoma estava no “vale de Sidim (que é o mar salgado)”, provavelmente o Mar Morto. Em 1924, William F. Albright e M. Kyle, grandes nomes da Arqueologia, visitaram uma região nessas proximidades chamada em árabe de Bab-Edh-Dhra. Ali eles encontraram vários restos de um santuário cananeu que datava de 2800-1800 a.C. Quarenta anos depois, Paul Lapp, juntamente com a sua equipe, realizou a primeira escavação e encontrou o cemitério da cidade que ficava a um quilômetro de distância do centro. Foi nessa época que Lapp e Albright relacionaram esse sítio arqueológico com a bíblica Sodoma e sugeriram a idéia de que o local era no passado grande centro religioso das cidades da planície. Um detalhe é bem sugestivo: na região da cidade foram encontradas várias camadas de cinza com alguns metros de espessura!
No cemitério, a evidência é mais impressionante ainda. Existia um estilo de sepultamento na cidade em que uma cova muito profunda era cavada e vários corpos eram ali depositados com os seus pertences (numa tumba foram colocadas 250 pessoas!); mas no período da destruição o estilo era outro. Uma casa mortuária era colocada sobre o corpo, mais ou menos como as capelinhas que vemos em alguns cemitérios atuais, mas logicamente bem menores. Todas essas casas mortuárias estavam queimadas e a primeira sugestão foi de que o fogo começou dentro e se espalhou para fora. Porém, estudos avançados foram feitos e constataram que o fogo começou no telhado que cedeu e se espalhou por dentro. Como explicar isso? Vulcão? Incêndio? Um conquistador colocou fogo no local? Nenhuma dessas respostas é satisfatória. Como um incêndio começaria num cemitério que ficava a um quilômetro da cidade? Por que um conquistador colocaria fogo num cemitério?
Avaliemos a situação: na cidade temos camadas de cinza e no cemitério cinza e marcas de fogo. Bryant Wood, arqueólogo cristão da atualidade, afirmou que a Arqueologia não tem respostas para esse fenômeno. Por outro lado, a Bíblia fornece a resposta: foi Deus quem destruiu essas cidades com fogo e enxofre (Gn 19:23-29).
Mas por que um Deus de amor (1Jo 4:8) destruiria uma cidade de forma tão violenta? A resposta pode ser encontrada em Judas 7. Ali lemos que Sodoma foi destruída por causa da sua prostituição. Em grego, a palavra é porneia, que deu origem ao nosso vocábulo "pornografia". A idéia básica de porneia é toda e qualquer relação sexual, dentro ou fora do casamento, não aprovada por Deus. Adultério, fornicação, masturbação é apenas uma pequena amostra de uma vasta lista de degradações. Quando olhamos para a triste história de Sodoma, vemos um Deus que é amor, mas também é justo. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7). Que triste notícia para aqueles que querem continuar no pecado.