Recentemente foi questionada no blog www.michelsonborges.com a veracidade histórica do Novo Testamento (NT). Há muitos bons livros no mercado sobre isso, mas procurei reproduzir aqui, de forma resumida, as dez razões apresentadas no livro Não tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu (Vida), pelas quais sabemos que os autores do NT disseram a verdade.
1. Os autores do NT incluíram detalhes embaraçosos sobre si mesmos. A tendência da maioria dos autores é deixar de fora qualquer coisa que prejudique sua aparência. É o “princípio do embaraço”. Agora pense: Se você e seus amigos estivessem forjando uma história que você quisesse que fosse vista como verdadeira, vocês se mostrariam como covardes, tolos e apáticos, pessoas que foram advertidas e que duvidaram? É claro que não. Mas é exatamente isso que encontramos no NT. Se você fosse autor do NT, escreveria que um dos seus principais líderes foi chamado de “Satanás” por Jesus, negou o Senhor três vezes, escondeu-se durante a crucifixão e, mais tarde, foi repreendido numa questão teológica?
O que você acha que os autores do NT teriam feito se estivessem inventando uma história? Teriam deixado de lado a sua inaptidão, sua covardia, a repreensão que receberam, as negações e seus problemas teológicos, mostrando-se como cristãos ousados que se colocaram a favor de Jesus diante de tudo e que, de maneira confiante, marcharam até a tumba na manhã de domingo, bem diante dos guardas romanos, para encontrarem o Jesus ressurreto que os esperava para salvá-los por sua grande fé! Os homens que escreveram o NT também diriam que eles é que contaram às mulheres sobre o Jesus ressurreto, que eram as únicas que estavam escondendo-se por medo dos judeus. E, naturalmente, se a história fosse uma invenção, nenhum discípulo, em momento algum, teria sido retratado como alguém que duvida (especialmente depois de Jesus ter ressuscitado).
2. Os autores do NT incluíram detalhes embaraçosos e dizeres difíceis de Jesus. Os autores do NT também são honestos sobre Jesus. Eles não apenas registraram detalhes de uma auto-incriminação sobre si mesmos, mas também registraram detalhes embaraçosos sobre seu líder, Jesus, que parecem colocá-Lo numa situação bastante ruim. Exemplos: Jesus foi considerado “fora de Si” por Sua mãe e Seus irmãos, por quem também foi desacreditado; foi visto como enganador; foi abandonado por Seus seguidores e quase apedrejado certa ocasião; foi chamado de “beberrão” e de “endemoninhado”, além de “louco”. Finalmente, foi crucificado como malfeitor.
Entre as situações teologicamente “embaraçosas”, encontramos as seguintes: Ele amaldiçoa uma figueira (Mat. 21:18); Ele parece incapaz de realizar milagres em Sua cidade natal, exceto curar algumas pessoas doentes (Mar. 6:5); e parece indicar que o Pai é maior que Ele (João 14:28). Se os autores do NT queriam provar a todos que Jesus era Deus, então por que não eliminaram dizeres e situações complicados que parecem argumentar contra a Sua deidade? Os autores do NT foram extremamente precisos ao registrar exatamente aquilo que Jesus disse e fez.
3. Os autores do NT incluíram as exigências de Jesus. Se os autores do NT estavam inventando uma história, certamente não inventaram uma que tenha tornado a vida mais fácil para eles. Esse Jesus tinha alguns padrões bastante exigentes. O Sermão do Monte (Mateus 5), por exemplo, não parece ser uma invenção humana. São mandamentos difíceis de ser cumpridos pelos seres humanos e parecem ir na direção contrária dos interesses dos homens que os registraram. E certamente são contrários aos desejos de muitos hoje que desejam uma religião de espiritualidade sem exigências morais.
4. Os autores do NT fizeram clara distinção entre as palavras de Jesus e as deles. Embora não existam aspas ou travessão para indicar uma citação no grego do século I, os autores do NT distinguiram as palavras de Jesus de maneira bastante clara. Teria sido muito fácil para esses homens resolverem as disputas teológicas do primeiro século colocando palavras na boca de Jesus. E fariam isso também, caso estivessem inventando a “história do cristianismo”. Teria sido muito conveniente para esses autores terminar todo debate ou controvérsia em torno de questões como circuncisão, leis cerimoniais judaicas, falar em línguas, mulheres na igreja e assim por diante, simplesmente inventando citações de Jesus. Mas eles nunca fizeram isso. Mantiveram-se fiéis ao que Jesus disse e não disse.
5. Os autores do NT incluíram fatos relacionados à ressurreição de Jesus que eles não poderiam ter inventado. Eles registraram que Jesus foi sepultado por José de Arimatéia, um membro do Sinédrio – o conselho do governo jadaico que sentenciou Jesus à morte por blasfêmia. Esse não é um fato que poderiam ter inventado. Considerando a amargura que certos cristãos guardavam no coração contra as autoridades judaicas, por que eles colocariam um membro do Sinédrio de maneira tão positiva? E por que colocariam Jesus na sepultura de uma autoridade judaica? Se José não sepultou Jesus, essa história teria sido facilmente exposta como fraudulenta pelos inimigos judaicos do cristianismo. Mas os judeus nunca negaram a história e jamais se encontrou uma história alternativa para o sepultamento de Jesus.
Todos os quatro evangelhos dizem que as mulheres foram as primeiras testemunhas do túmulo vazio e as primeiras a saberem da ressurreição. Uma dessas mulheres era Maria Madalena, que Lucas admite ter sido uma mulher possuída por demônios (Luc. 8:2). Isso jamais teria sido inserido numa história inventada. Uma pessoa possessa por demônios já seria uma testemunha questionável, mas as mulheres em geral não eram sequer consideradas testemunhas confiáveis naquela cultura do século I. O fato é que o testemunho de uma mulher não tinha peso num tribunal. Desse modo, se você estivesse inventando uma história da ressurreição de Jesus no século I, evitaria o testemunho de mulheres e faria homens – os corajosos – serem os primeiros a descobrir o túmulo vazio e o Jesus ressurreto. Citar o testemunho de mulheres – especialmente de mulheres possuídas por demônios – seria um golpe fatal à tentativa de fazer uma mentira ser vista como verdade.
“Por que o Jesus ressurreto não apareceu aos fariseus?” é uma pergunta comum feita pelos céticos. A resposta pode ser porque não teria sido necessário. Isso é normalmente desprezado, mas muitos sacerdotes de Jerusalém tornaram-se cristãos. Lucas escreve: “Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé” (Atos 6:7). Se você está tentando fazer que uma mentira seja vista como verdade, não facilita as coisas para os seus inimigos, permitindo que exponham a sua história. A conversão dos fariseus e a de José de Arimatéia eram dois detalhes desnecessários que, se fossem falsos, teriam acabado com a “farsa” de Lucas.
Em Mateus 28:11-15, é exposta a versão judaica para o fato do túmulo vazio (a mentira do roubo do corpo de Jesus). Note que Mateus deixa bastante claro que seus leitores já sabiam sobre essa explicação dos judeus porque “essa versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje”. Isso significa que os leitores de Mateus (e certamente os próprios judeus) saberiam se ele estava ou não dizendo a verdade. Se Mateus estava inventando a história do túmulo vazio, por que daria a seus leitores uma maneira tão simples de expor suas mentiras? A única explicação plausível é que o túmulo deve ter realmente ficado vazio, e os inimigos judeus do cristianismo devem realmente ter espalhado essa explicação específica para o túmulo vazio (de fato, Justino Mártir e Tertuliano, escrevendo respectivamente nos anos 150 d.C. e 200 d.C., afirmam que as autoridades judaicas continuaram a propagar essa história do roubo durante todo o século II).
6. Os autores do NT incluíram em seus textos, pelo menos, 30 pessoas historicamente confirmadas. Não há maneira de os autores do NT terem seguido adiante escrevendo mentiras descaradas sobre Pilatos, Caifás, Festo, Félix e toda a linhagem de Herodes. Alguém os teria acusado por terem envolvido falsamente essas pessoas em acontecimentos que nunca ocorreram. Os autores do NT sabiam disso e não teriam incluído tantas pessoas reais de destaque numa ficção que tinha o objetivo de enganar.
7. Os autores do NT incluíram detalhes divergentes. Os críticos são rápidos em citar os relatos aparentemente contraditórios dos evangelhos como evidência de que não são dignos de confiança em informação precisa. Mateus diz, por exemplo, que havia um anjo no túmulo de Jesus, enquanto João menciona a presença de dois anjos. Não seria isso uma contradição que derrubaria a credibilidade desses relatos? Não, mas exatamente o oposto é verdadeiro: detalhes divergentes, na verdade, fortalecem a questão de que esses são relatos feitos por testemunhas oculares. Como? Primeiro, é preciso destacar que o relato dos anjos não é contraditório. Mateus não diz que havia apenas um anjo na sepultura. Os críticos precisam acrescentar uma palavra ao relato de Mateus para torná-lo contraditório ao de João. Mas por que Mateus mencionou apenas um anjo, se realmente havia dois ali? Pela mesma razão que dois repórteres de diferentes jornais cobrindo um mesmo fato optam por incluir detalhes diferentes em suas histórias. Duas testemunhas oculares independentes raramente vêem todos os mesmos detalhes e descrevem um fato exatamente com as mesmas palavras. Elas vão registrar o mesmo fato principal (Jesus ressuscitou dos mortos), mas podem diferir nos detalhes (quantos anjos havia no túmulo). De fato, quando um juiz ouve duas testemunhas que dão testemunho idêntico, palavra por palavra, o que corretamente presume? Conluio. As testemunhas se encontraram antecipadamente para que suas versões do fato concordassem.
À luz dos diversos detalhes divergentes do NT, está claro que os autores não se reuniram para harmonizar seus testemunhos. Isso significa que certamente não estavam tentando fazer uma mentira passar por verdade. Se estavam inventando a história do NT, teriam se reunido para certificar-se de que eram coerentes em todos os detalhes.
Ironicamente, não é o NT que é contraditório, mas sim os críticos. Por um lado, os críticos afirmam que os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) são por demais uniformes para serem fontes independentes. Por outro lado, afirmam que eles são muito divergentes para estarem contando a verdade. Desse modo, o que eles são? Muito uniformes ou muito divergentes? Na verdade, são a mistura perfeita de ambos: são tanto suficientemente uniformes e suficientemente divergentes (mas não tanto) exatamente porque são relatos de testemunhas oculares independentes dos mesmos fatos. Seria de esperar ver o mesmo fato importante e detalhes menores diferentes em manchetes de jornais independentes relatando o mesmo acontecimento.
Simon Greenleaf, professor de Direito da Universidade de Harvard que escreveu um estudo-padrão sobre o que constitui evidência legal, creditou sua conversão ao cristianismo ao seu cuidadoso exame das testemunhas do evangelho. Se alguém conhecia as características do depoimento genuíno de testemunhas oculares, essa pessoa era Greenleaf. Ele concluiu que os quatro evangelhos “seriam aceitos como provas em qualquer tribunal de justiça, sem a menor hesitação” (The Testimony of the Evangelists, págs. 9 e 10).
8. Os autores do NT desafiam seus leitores a conferir os fatos verificáveis, até mesmo fatos sobre milagres. Lucas diz isso a Teófilo (Luc. 1:1-4); Pedro diz que os apóstolos não seguiram fábulas engenhosamente inventadas, mas que foram testemunhas oculares da majestade de Cristo (II Ped. 1:16); Paulo faz uma ousada declaração a Festo e ao rei Agripa sobre o Cristo ressurreto (Atos 26) e reafirma um antigo credo que identificou mais de 500 testemunhas oculares do Cristo ressurreto (I Cor. 15). Além disso, Paulo faz uma afirmação aos cristãos de Corinto que nunca teria feito a não ser que estivesse dizendo a verdade. Em sua segunda carta aos corintios, ele declara que anteriormente realizara milagres entre eles (II Cor. 12:12). Por que Paulo diria isso a eles a não ser que realmente tivesse realizado os milagres? Ele teria destruído completamente sua credibilidade ao pedir que se lembrassem de milagres que nunca realizara diante deles.
9. Os autores do NT descrevem milagres da mesma forma que descrevem outros fatos históricos: por meio de um relato simples e sem retoques. Detalhes embelezados e extravagantes são fortes sinais de que um relato histórico tem elementos lendários. Note este trecho da narração da ressurreição no livro apócrifo Evangelho de Pedro: “...três homens que saíam do sepulcro, dois dos quais servindo de apoio a um terceiro, e uma cruz que ia atrás deles. E a cabeça dos dois primeiros chegava até o céu, enquanto a daquele que era conduzido por eles ultrapassava os céus. E ouviram uma voz vinda dos céus que dizia: ‘Pregaste para os que dormem?’ E da cruz fez-se ouvir uma resposta: ‘Sim’.”
Provavelmente seria assim que alguém teria escrito se estivesse inventando ou embelezando a história da ressurreição de Jesus. Mas os relatos da ressurreição de Jesus no NT não contêm nada semelhante a isso. Os evangelhos fornecem descrições triviais quase insípidas da ressurreição. Confira em Marcos 16:4-8, Lucas 24:2-8, João 20:1-12 e Mateus 28:2-7.
10. Os autores do NT abandonaram parte de suas crenças e práticas sagradas de longa data, adotaram novas crenças e práticas e não negaram seu testemunho sob perseguição ou ameaça de morte. E não são apenas os autores do NT que fazem isso. Milhares de judeus, dentre eles sacerdotes fariseus, converteram-se ao cristianismo e juntam-se aos apóstolos ao abandonarem o sistema de sacrifícios de animais prescrito por Moisés, ao aceitar Jesus como integrante da Divindade (o que era inaceitável naquela cultura estritamente monoteísta) e ao abandonar a idéia de um Messias conquistador terrestre.
Além disso, conforme observa Peter Kreeft, “por que os apóstolos mentiriam? ... se eles mentiram, qual foi sua motivação, o que eles obtiveram com isso? O que eles ganharam com tudo isso foi incompreensão, rejeição, perseguição, tortura e martírio. Que bela lista de prêmios!” Embora muitas pessoas venham a morrer por uma mentira que considerem verdade, nenhuma pessoa sã morrerá por aquilo que sabe que é uma mentira.
Conclusão de Norman Geisler e Frank Turek, autores de Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu: “Quando Jesus chegou, a maioria dos autores do NT era de judeus religiosos que consideravam o judaísmo a única religião verdadeira e que se consideravam o povo escolhido de Deus. Alguma coisa dramática deve ter acontecido para tirá-los do sono dogmático e levá-los a um novo sistema de crenças que não lhes prometia nada além de problemas na Terra. À luz de tudo isso, não temos fé suficiente para sermos céticos em relação ao Novo Testamento.”