A interpretação das epístolas – Parte 1
A partir desta lição começaremos a estudar os diferentes gêneros de literatura que compoem a Bíblia. Começaremos estudando as Epístolas. A razão para isto é que elas totalizam quase 50 por cento do Novo Testamento. Aparentemente parece ser fácil sua interpretação, afinal que mistério há em se compreender que todos pecaram e estão afastados da glória de Deus (Rm. 3:23)? Ou então qual a dificuldade na interpretação de que o salário do pecado é a morte (Rm. 6:23)? E ainda não temos dificuldade de entender que somos salvos pela graça por meio da fé (Ef. 2:8), não é mesmo?
Bom, para nosso estudo das Epístolas vamos usar como modelo I Coríntios. E em nosso objeto de estudo devemos tomar a opinião de Paulo como sendo Palavra de Deus (7:25)? E no caso da exclusão de um membro? Como isto se aplica hoje em dia quando há tantas igrejas, que basta apenas atravessar a rua (capítulo 5)? E como ficam as mulheres? Devem ou não usar véu nos dias de hoje?
Estes e outros exemplos serão estudados para sabermos como interpretar estes escritos de 2 mil anos que usamos ainda hoje.
1 A natureza das epístolas
Antes de comerçarmos a estudar I Corintios como nosso modelo vamos primeiro analisar a estrutra de uma carta, que contém, em geral, as seis partes seguintes:
1- o nome do escritor (ex. Paulo)
2- o nome do endereçado (ex. à Igreja de Deus em Corinto)
3- a saudação (ex. Graça a vós outros e paz da parte de nosso Deus e Pai…)
4- oração (ex. Sempre dou graças a Deus a respeito de vós…)
5- o corpo
6- a saudação final e despedida (ex. a graça do Senhor seja convosco)
Algumas cartas podem fugir um pouco deste padrão; é o caso da carta aos Hebreus.
Notemos que o autor pula todas as quatro primeiras partes e vai direto ao assunto. Vamos perceber também, durante a leitura, que esta carta não assume um tom muito pessoal, como muitas das cartas de Paulo por exemplo.
A carta de I João também não possui os elementos formais de uma carta comum, e assim como o autor de Hebreus, João parte diretamente ao assunto.
Tiago e II Pedro começam como cartas, tem os elementos iniciais, porém lhes falta a saudação final.
Estas cartas todas, parecem ter sido realmente escritas para um público geral, e não para alguém em particular.
Algo que todas as cartas têm em comum é o fato de serem ocasionais. Ou seja, embora tendo a ação do Espírito Santo, e servindo para nós nos dias de hoje, foram inicialmente escritas para o povo do século I. Esta é a maior dificuldade que encontramos na interpretação destes escritos. Como contextualizarmos os mandamentos para nós do século XXI ? Nas próximas lições vamos aprender como estudar e interpretá-las corretamente.
2 O contexto histórico
A primeira coisa a ser feita antes de comerçarmos a estudar e interpretar a Carta aos Coríntios é nos perguntar o que levou Paulo a escrever uma a eles. Outra coisa é procurarmos saber o máximo possível sobre a localidade onde viviam. Sabemos que pelos padrões da época Corinto era uma cidade relativamente nova. Devido à sua localização estratégica cresceu muito comercialmente, e era uma cidade bastante religiosa, com diversos templos de deuses espalhados pela cidade. Além disso, era uma cidade com muita cultura e sobretudo rica. Fazendo então uma análise rápida, podemos dizer que Corinto era uma mistura de Rio de Janeiro, São Paulo e Aparecida do Norte. Ou seja, não foi uma carta escrita para uma cidade do interior de Roraima. Mantendo estes dados em mente, nossa compreensão do assunto da carta será muito mais proveitoso.
A segunda coisa é tomarmos um tempo para lermos a carta toda de uma única vez. Afinal este é o processo de leitura quando lemos uma matéria no jornal ou um e-mail. Não tente nesta primeira leitura achar o significado de cada palavra ou frase, por hora é apenas a visão panorâmica que nos interessa. Podemos sim, anotar algumas coisas nesta primeira leitura:
1- o que está escrito sobre os endereçados? São judeus, gentios, ricos, escravos? Quais os seus problemas e atitudes?
2- as atitudes de Paulo
3- quaisquer coisas específicas na ocasião em que a carta foi escrita.
4- as divisões lógicas da carta.
Claro que, se mesmo isso for demais para esta primeira leitura, isto pode ser feito durante o estudo, depois da primeira leitura.
Com base na estrutura apresentada acima, podemos ter notado as seguintes coisas:
1-Os crentes coríntios eram principalmente gentios, mas haviam alguns judeus também (6:9-11; 8:10; 12:13). Gostavam de sabedoria e conhecimento (1:18 – 2:5; 4:10; 8:1-13; ). Eram orgulhosos e arrogantes (4:18; 5:2-6), até ao ponto de julgarem Paulo (4:1-5; 9:1-18)
2- A atitude de Paulo variou entre a repreensão (4:8-21; 5:2; 6:1-8), o apelo (4:14-17; 16:10-11) e a exortação (6:18-20; 16:12-14)
3- Vemos em 1: 10-12 que Paulo foi informado por pessoas da família de Cloé. Em 5:1 também nos diz informações relatadas. Em 7:1 vemos que Paulo havia recebido uma carta deles. Notamos também que haviam alguns itens nessa carta, conforme 7:25, 8:1, 12:1, 16:1 e 16:12.
4- Quanto às divisões lógicas da carta, vemos que 7:1 é a primeira vez que Paulo menciona a carta recebida. Neste caso, podemos supor que os capítulos 1 a 6 são respostas daquilo que foi relatado a Paulo. As frases introdutórias e os assuntos abordados nos dão base para propor as seguintes divisões:
ð o problema das divisões na igreja (1:10 – 4:21)
ð o problema do homem incestuoso (5:1-13)
ð o problema dos processos jurídicos (6:1-11)
ð o problema da fornicação (6:12-20)
A maior parte do conteúdo entre o capítulo 7 e o 16 é resposta à carta recebida, como podemos ver pela expressão usada por Paulo “Ora, quanto ao…”. Os itens que não são introduzidos por esta expressão são três: 11:2-16, 11:17-34 e 15:1-58. Talvez os itens do capítulo 11 também foram relatados a ele (ao invés de ter tomado conhecimento por meio da carta recebida), mas foram incluídos aqui porque tudo, desde o capítulo 8 até o capítulo 14 trata da adoração de forma geral. O capítulo 15 fica dificil saber se é uma resposta ao que foi relatado a ele, ou se é resposta à carta que mandaram. O versículo 12 não ajuda muito neste sentido, pois Paulo pode estar citando um relato, ou a carta deles.
Seja como for, o restante da carta pode ser facilmente esboçado:
ð o comportamento dentro do casamento (7:1-24)
ð as virgens (7:25-40)
ð a comida sacrificada aos ídolos (8:1-11:1)
ð as cabeças cobertas das mulheres na igreja (11:2-16)
ð os abusos na Ceia do Senhor (11:17-34)
ð os dons espirituais (12-14)
ð a ressurreição dos crentes (15:1-58)
ð a coleta (16:1-11)
ð a volta de Apolo (16:12)
ð exortações e saudações finais (16:13-24)
O único outro lugar nas cartas de Paulo que ele escreve em forma de resposta de itens independentes é I Tessalonicenses 4-5.
Vamos concentrar nossos estudos no problema da divisão na igreja: capítulos 1 – 4.
3 O contexto histórico de I Coríntios 1 – 4
Antes de mais nada vamos elaborar uma lista de atividades a fim de estudarmos cada uma das seções menores da carta:
1- Leia I Coríntios 1-4 pelo menos duas vezes, em duas traduções diferentes. Isto o fará ver o panorama geral do trecho, e saber os argumentos usados.
2- Anote tudo que conseguiu achar sobre os endereçados e seu problema. Nesta etapa poderemos ser bastante detalhistas.
3- Anote as palavras-chave e frases repetidas de Paulo. Isto indica o conteúdo de sua resposta.
Uma das razões para escolhermos este trecho, além do sério problema de divisão que enfrentavam, o começo deste trecho parece não se encaixar no contexto. Notem que Paulo começa a expor a situação, o problema (1:10-12), porém, no começo de sua resposta, ele não continua se referindo ao problema (1:18-3:4). Apenas na conclusão, há a ligação do conceito de “sabedoria” e “gloriar-se nos homens”, que são as idéias chaves neste trecho, com o fato da divisão da igreja entre partidários de Paulo, Apolo e Cefas. Vamos ver como todas essas idéias se encaixam.
Para começar, Paulo diz claramente que eles estão divididos de acordo com seus líderes (3:4-9; 3:21-22; 4:6). Mas, a questão não era apenas uma mera diferença de opinião entre eles. Eles estavam realmente disputando entre si, um querendo ser mais que o outro (4:6).
Tudo isto parece estar bem claro, numa primeira visão. Porém, olhando com mais cuidado vemos que os problemas eram um pouco mais graves do que realmente parecia. Vejamos pelos menos duas coisas que ficam claras quando prestamos um pouco mais de atenção ao texto.
1- Lendo 4:1-5 fica claro que havia uma queixa contra o próprio Paulo. Ou seja, não era apenas uma questão de prefer6encia entre Paulo ou Apolo, mas havia os que eram contra Paulo e os que eram a favor de Paulo.
2- A palavra chave neste trecho é sabedoria ou sábio. Ela ocorre 26 vezes entre os capítulos 1 a 3, e apenas 18 vezes no restante das cartas de Paulo juntas. Deus deixou a sabedoria do mundo de lado (1:18-22; 1:27-28; 3:18-20). Cristo, por meio da cruz, se tornou sabedoria da parte de Deus (1:30). Esta sabedoria é revelada pelo Espírito, para aqueles têm o Espírito. O emprego da palavra sabedoria, neste argumento, nos faz pensar que Paulo fazia parte do problema. No mínimo podemos supor que, em nome da sabedoria, os coríntios estão levando sua idéia de divisão à frente. Como eles eram muito cultos e filósofos, tinham uma idéia da fé cristã como sendo uma nova “sabedoria divina”, e julgaram Paulo de acordo com esta sabedoria puramente humana.
Com base na resposta de Paulo podemos enumerar três coisas:
1- 3:5-23 mostra que os coríntios entenderam de modo errado a função da liderança na igreja.
2- De acordo com 1:18 a 3:4, eles entenderam de forma errada a natureza básica do evangelho.
3- Com base em 4:1-21 seu modo de julgar a Paulo também estava errado.
Feitas estas distinções podemos agora nos concentrar na análise da resposta de Paulo.
4 O contexto literário
O próximo passo então é seguir a argumentação de Paulo em I Coríntios 1:10 – 4:21 parágrafo por parágrafo, e em uma ou duas frases explicar cada parágrafo dentro do argumento todo de Paulo. Algumas perguntas precisam ser feitas neste estágio:
1- Resumidamente, o que Paulo diz neste parágrafo?
2- Por que Paulo diz isso?
3- Como este conteúdo contribui com argumento todo?
Para ilustrar, vamos tomar a parte principal da resposta de Paulo, que se encontra em 3:5-16. Até aqui Paulo havia dito que a essência do Evangelho, um Messias crucificado, era contrária à sabedoria humana (1:18-25); assim como a escolha deles para pertencerem ao povo de Deus. É como se Paulo estivesse dizendo, em outras palavras: “Quem, em nome da sabedoria humana, teria escolhido vocês para se tornarem povo de Deus? “.
Notem que Paulo trata o poder de Deus também como sabedoria (2:1-7). Porém é uma sabedoria revelada por Deus, não descoberta pelos homens, para quem tem o Espírito de Deus (2:6-16). Neste ponto, Paulo faz um apelo, pois eles têm o Espírito de Deus, então deveriam parar de agir como aqueles que não possuem o Espírito de Deus.
Agora, como os parágrafos que se seguem funcionam neste argumento de Paulo?
1- 3:5-9
2-
Trata da natureza e da função dos líderes da igreja. Paulo diz que são meros servos, e não senhores. Nos versículos 6 a 9 ele ensina duas lições:
Tanto Paulo quanto Apolo estão unidos numa coisa comum, única, mesmo que suas tarefas sejam diferentes.
Tudo e todos pertencem a Deus – a igreja, os servos e o crescimento.
2- 3:10-17
A lição aqui é como será edificada a obra, que pode ser para o bem ou para o mal. Aqui, o que está sendo edificado é a igreja. Aqueles que dirigem a igreja devem fazer com cuidado, pois a provação se aproxima. Edificar a igreja com sabedoria humana, com eloquência que contorna a cruz de Cristo é edificar com feno, palha ou madeira.
A lição de Paulo neste contexto é expressar aos coríntios que eles são o templo de Deus naquele cidade, em contraste com os outros templos pagãos existentes. O que os tornava templo de Deus ali, era o fato de vivierem em comunhão com o Espírito Santo. Porém, por causa das divisões eles estavam destruindo este templo (a Igreja), que era sagrado para Deus.
Vamos rever as bases do argumento de Paulo, que neste ponto se completou:
ð Paulo desmascarou a compreensão incorreta que os coríntios tinham do evangelho.
ð Paulo desmascarou a compreensão incorreta que os coríntios tinham da liderança da igreja.
ð Paulo advertiu os líderes, bem como a própria igreja sobre o julgamento divino contra os que promovem divisões.
E no final (3:18-23), Paulo junta todos os temas abordados nesta argumentação, como uma conclusão.
5 Reforçando
A fim de adquirirmos prática, vamos ver uma passagem fora de I Coríntios, mas que também fala sobre a falta de união na igreja.
Leiamos Filipenses 1:27 – 2:13.
Vamos fazer uma rápida revisão de Filipenses:
ð Paulo está na prisão (1:13-17)
ð Igreja de Filipos enviou uma oferta através de Epafrodito (4:14-18)
ð Epafrodito ficou doente e a igreja se entristeceu (2:25-30)
ð Deus o poupou e Paulo o envia de volta (2:25-30)
ð Epafrodito volta com a carta para os Filipenses a fim de:
Contar aos membros como ele está
Agradecer-lhes a oferta
Exortá-los a viver em harmonia (1:27 – 2:17; 4:2-3) e evitarem a heresia judaizante (3:1 – 4:1)
Notem que até o versículo 26 Paulo está falando sobre ele mesmo, como está na prisão. Mas no versículo 27 ele muda o contexto para os filipenses. Qual é então a razão de ser de cada parágrafo nesta seção?
O primeiro parágrafo, 1:27-30, começa a exortação. A lição, o resumo parace ser a que lemos no versículo 27: “ficar firmes num só espírito”. Ou seja, uma exortação à união, pois estavam enfrentando oposição.
Como que 2:1-4 se relaciona com a união? Primeiramente Paulo repete a exortação, porém a lição aqui é que a humildade é a atitude para os crentes viverem em união.
Qual é a lição no parágrafo 2:5-11? Jesus em sua encarnação e morte é o exemplo máximo de humildade que devemos ter.
E por fim, qual a lição de 2:12-13? Esta é claramente a conclusão. Notem as expressões nas diversas traduções da Bíblia: “Assim pois”, “Portanto”, “De sorte que”. Tendo o exemplo de Cristo, devem obedecer a Paulo. Em que? Em terem unidade, que também requer humildade.
Concluída esta análise, podemos verificar que o problema de união em Filipos era, com certeza, muito menos grave do que em Corinto.
6 As passagens problemáticas
Até aqui vimos o processo normal de análise de um texto. Vimos como fica mais fácil se lemos a passagem em parágrafos. Mas, existem textos que em uma primeira análise nos parece dificil, e até mesmo contraditório. O que fazer quando nos deparamos com passagens como estas:
o significado de “por causa dos anjos” em I Coríntios 11:10
“os que se batizam por causa dos mortos” em I Coríntios 15:29
Cristo pregando aos “espíritos em prisão” em I Pedro 3:19
o “homem da iniquidade” em II Tessalonicenses 2:3
1- Em muitos casos a razão dos textos nos parecem tão difíceis é que não foram escritos diretamente para nós. Ou seja, o autor e seus leitores estavam sintonizados, tinham a mesma cultura, desta forma o escritor podia pressupor algumas coisas por parte de seus leitores. Um exemplo é quando Paulo escreve aos Tessalonicenses : “Não vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas…”. Então, muitas vezes, também devemos nos contentar em saber aquilo que Deus quis nos revelar, aquilo que Ele quer que saibamos.
2- Mesmo que não saibamos o trecho específico, muitas vezes a lição do parágrafo ainda está ao nosso alcance. Então, seja o que for que levou os coríntios a se batizar em nome dos mortos Paulo os ensina que eles não estavam sendo consistentes ao rejeitarem uma ressurreição futura dos crentes.
3- Quanto às incertezas de determinado trecho temos aque aprender a perguntar o que pode ser dito sobre o mesmo com certeza, e aquilo que é possível, mas não certo. Na passagem do batismo pelos mortos a certeza que temos é que isto estava sendo realizado, e Paulo simplesmente se refere a ela.
4- Nestes casos sempre será necessário consultarmos um bom comentário bíblico. Consulte vários, talvez você não concorde com aquele autor especificamente, mas é sempre bom conhecermos todas as opções dadas a determinada questão.
No mais, até mesmo os mais estudiosos nunca terão todas as respostas. E em parte isto é bom para que conservemos nossa humildade e para que reconheçamos e experimentemos a verdade de Deuteronômio 29:29.
terça-feira, 12 de abril de 2016
ENTRE O LITERAL E A PARÁFRASE
ENTRE O LITERAL E A PARÁFRASE
Michael Zwaagstra
Michael Zwaagstra
Muitos cristãos ficam perplexos com o desafio de selecionar a melhor versão da Bíblia, quando deparados com a variedade de versões a sua disposição.
Em qualquer livraria cristã é possível encontrar muitas traduções diferentes da Bíblia a disposição para venda.
Como a maioria de nós não tem a habilidade de ler em hebraico, aramaico ou grego, somos dependentes da linguagem de acadêmicos que traduziram a palavra de Deus para nós. Sabendo disso, somos privilegiados por ter a disposição várias traduções, nos possibilitando ter maior acesso à Palavra de Deus do que os cristãos nos séculos passados tiveram.
Contudo, se a tradução da Bíblia é somente uma questão de conversão de línguas antigas para o português, por que há tantas versões diferentes? Afinal, o governo canadense traduz regularmente, documentos do francês para o inglês e vice e versa, sem muita dificuldade. Por que traduzir a Bíblia seria tão diferente? A resposta para isso é que, diferentemente das línguas modernas como francês e espanhol, hebraico, aramaico e grego são fundamentalmente diferentes da língua portuguesa. Como resultado, a tradução da Bíblia é muito mais do que simplesmente converter palavras de sua língua original para a nossa língua.
Por exemplo, a tradução literal de palavra por palavra do grego para português de João 3:16 fica da seguinte forma:
“Assim pois amou Deus o mundo, que o Filho único deu, para que todo o que crê em ele não pereça mas tenha vida eterna.”
Como pode-se notar, uma simples tradução de “palavra por palavra” não faz sentido para a maioria dos leitores. Afim de alcançar uma tradução funcional, a estrutura gramatical precisa de mudanças significativas.
Tipos de Traduções
Com o risco da simplificação exacerbada, há 3 categorias principais de traduções da Bíblia:
1. Essencialmente literal: Essas traduções retém muito da forma e estrutura da língua original e oferecem uma tradução de palavra por palavra ao maior grau possível. Algumas traduções desta categoria incluem João Ferreira de Almeida, João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida (RC), João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada (RA), Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Almeida Revista Imprensa Bíblica.
2. Equivalência Dinâmica: Essas traduções possuem uma abordagem de “pensamento por pensamento” que transmite o significado essencial do original escrito pelo autor. Conceitos e metáforas menos conhecidas para leitores da era moderna são frequentemente reescritos. Algumas traduções nessa categoria incluem a Nova Versão Internacional (NVI), Bíblia de Jerusalém.
3. Paráfrase Livre: Paráfrases possuem grande liberdade com o texto bíblico e procuram transmitir o significado expresso usando frases contemporâneas e metáforas. As paráfrases bíblicas mais conhecidas são Tradução na Linguagem de Hoje, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Bíblia Viva e A Mensagem.
Dentro de cada uma dessas categorias, há variações importantes. Por exemplo, a NVI é geralmente mais literal do que outras traduções dinâmicas equivalentes, ao passo que a Bíblia “A Mensagem” desvia-se mais do texto original do que a Bíblia Viva ou Tradução na Linguagem de Hoje. No entanto, essas categorias são uma maneira útil de fazer com que o leitor leigo diferencie a infinidade de traduções disponíveis da Palavra de Deus.
Para ilustrar as abordagens de diferentes traduções, quando traduzido estritamente palavra por palavra, o texto de Romanos 8:8 diz o seguinte: “Os porém em carne que estão a Deus agradar não podem.” Abaixo, temos um exemplo de como o texto insurge em traduções representativas de cada uma das três categorias:
Essencialmente Literal:
· “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
· “E os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Almeida Revista Imprensa Bíblica).
Equivalência Dinâmica:
· “Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus” (NVI).
Paráfrase Livre:
· “As pessoas que vivem de acordo com a sua natureza humana não podem agradar a Deus” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
As traduções essencialmente literais são as mais próximas ao texto original; o texto em grego é analisado e basicamente reescrito em uma gramática aceitável na língua para a qual está sendo traduzido. Em contraste, as traduções de equivalência dinâmica substituem a palavra “carne” por “natureza pecaminosa” e deixam explicito o que está somente implícito no texto original, expressando que aqueles que não agradam a Deus estão sob o comando da natureza pecaminosa.
O significado básico é sempre preservado apesar de algumas palavras-chaves serem adicionadas ou apagadas. A Bíblia “A Mensagem” prioriza os pontos principais, ou seja, nesse texto o sentido é de que qualquer um absorto em si mesmo é desagradável a Deus. Esta versão ainda amplia esse ponto omitindo qualquer referência direta à carne, ou natureza pecaminosa.
Qual Versão Devemos Usar?
Claramente, há muitas diferenças entre as várias traduções. Dizer que uma Bíblia é tão boa quanto a outra simplesmente não é verdade. Com isso em mente, acredito que os cristãos deveriam usar uma tradução essencialmente literal, especialmente para um estudo aprofundado ou leitura em público. Já que toda a escritura é inspirada por Deus (2 Tim. 3:16), devemos procurar ler traduções que reflitam as palavras escritas originalmente em hebraico, aramaico ou grego o máximo possível. O próprio Jesus disse, “de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido” (Mateus 5:18), e devemos ser cuidadosos com as traduções que alteram a Palavra de Deus.
Outra razão que merece nossa atenção, é que frequentemente em casos onde há mais de um significado para um texto bíblico, o leitor que escolheu uma tradução de equivalência dinâmica ou de paráfrase livre recebe apenas a interpretação do tradutor. Veja um exemplo de Marcos 9:24:
“E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
“Imediatamente o pai do menino, clamando, {com lágrimas} disse: Creio! Ajuda a minha incredulidade” (Almeida Revista Imprensa Bíblica).
Ambas as traduções são essencialmente literais e preservam a fala confusa do pai. Quando diz: “Creio! Ajuda a minha incredulidade,” será que ele quis dizer que precisava da ajuda de Jesus para vencer sua incredulidade ou estava afirmando que acreditava nEle e gostaria de ter mais fé? Não sabemos ao certo, mas é algo que deve ser considerado ao ler o texto. Contudo, note como as traduções de equivalência dinâmica e de paráfrase livre apresentam esse verso:
“Imediatamente o pai do menino exclamou: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!” (Nova Versão Internacional).
“Então o pai gritou:
— Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
“O pai imediatamente respondeu: “Eu tenho fé; oh, ajude-me a ter mais!” (A Bíblia Viva).
A linguagem que cada uma das traduções oferece é tão diferente porque elas apresentam uma variação de interpretações do que o pai disse. Quando o tradutor realiza o árduo trabalho de interpretar passagens desafiadoras, leitores cristãos acabam sendo privados da oportunidade de pensar por si mesmos. A realidade é que os cristãos deveriam estar preparados para lidar com passagens bíblicas difíceis, uma vez que este é um importante passo para o crescimento espiritual.
A Palavra que Transforma
Todos os cristãos, igrejas e congregações devem considerar cuidadosamente qual tradução usar para uso pessoal e para leitura em público. Estou convicto de que nos tornamos dependentes dos tradutores da Bíblia para interpretá-la. Àqueles inaptos a ler em hebraico e grego, traduções essencialmente literais são as mais próximas que temos do original das Escrituras. Vamos utilizar essas traduções com mais regularidade em nosso estudo pessoal e em leituras públicas, sem entrar no extremo de pensar que Deus falou a Jeremias na versão Almeida Revista e Atualizada. Ele falou, e o profeta não somente ouviu, mas tomou nota em hebraico. Sua vida nunca mais foi a mesma, porque a Palavra de Deus é inspirada, e também convence e corrige, transformando a você e a mim, de forma dinâmica e livre.
TIPOLOGIA
Os Simbolismos e tipologias
A maioria dos estudiosos concorda que no Antigo Testamento existem tipos que são posteriormente, no Novo Testamento, especificados e declarados. Os dois Testamentos se correlacionam por meio destas prefigurações e tipos. O Novo Testamento considera que alguns personagens, elementos e fatos do Antigo Testamento são prefigurações do que ainda estava por vir.
Nesta lição veremos o que são tipos.
Que elementos do Antigo Testamento devemos aceitar como sendo tipos prefigurados do Novo Testamento?
Que regras devemos seguir para interpretá-los?
Que elementos do Antigo Testamento devemos aceitar como sendo tipos prefigurados do Novo Testamento?
Que regras devemos seguir para interpretá-los?
1 Termos do Novo Testamento associados aos tipos
O termo “tipo” vem do grego typos, e aparece 15 vezes no Novo Testamento. E ganhou diversas traduções como se segue abaixo:
“…vir o sinal dos cravos nas mãos…” (Jo. 20:25)
“…figuras que vós fizestes para adorá-las…” (At. 7:43)
“…disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto” (At. 7:44)
“E escreveu-lhe uma carta nestes termos:” (At. 23:25)
“…da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir.” (Rm. 5:14)
“…obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Rm 6:17)
“Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo…” (1 Co 10:6)
“…aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós” (Fp. 3:17)
“De sorte que vos tornastes modelo para todos…” (1 Ts. 1:7)
“…mas para vos dar nós mesmos exemplo, para nos imitardes.” (2 Ts. 3:9)
“…mas sê um exemplo para os fiéis na palavra…” (1Tm. 4:12)
“Em tudo te dá por exemplo de boas obras…” (Tt. 2:7)
“os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais […] faze conforme o modelo que no monte se te mostrou” (Hb. 8:5)
“…mas servindo de exemplo ao rebanho. ” (1 Pe. 5:3)
“…figuras que vós fizestes para adorá-las…” (At. 7:43)
“…disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto” (At. 7:44)
“E escreveu-lhe uma carta nestes termos:” (At. 23:25)
“…da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir.” (Rm. 5:14)
“…obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Rm 6:17)
“Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo…” (1 Co 10:6)
“…aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós” (Fp. 3:17)
“De sorte que vos tornastes modelo para todos…” (1 Ts. 1:7)
“…mas para vos dar nós mesmos exemplo, para nos imitardes.” (2 Ts. 3:9)
“…mas sê um exemplo para os fiéis na palavra…” (1Tm. 4:12)
“Em tudo te dá por exemplo de boas obras…” (Tt. 2:7)
“os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais […] faze conforme o modelo que no monte se te mostrou” (Hb. 8:5)
“…mas servindo de exemplo ao rebanho. ” (1 Pe. 5:3)
Notemos que em todos estes casos a palavra typos foi usada com a idéia de correspondência ou semelhança. Um devia combinar com o outro.
Em cada um desses versículos um elemento corresponde ao outro.
A contrapartida do tipo , a parte correspondente, é chamada de antítipo, ou seja, correspondente ao tipo.
Vamos examinar 1 Pedro 3:21. Neste versículo aprendemos que o batismo é um antítipo do dilúvio, ou seja, o dilúvio serviu como tipo, modelo, prefiguração do batismo. Nos dois casos a palavra significa julgamento; o dilúvio significou a morte para os perversos, e o batismo nas águas significa a morte de Cristo e a identificação do crente com ela. Notemos que a idéia de semelhança está presente.
Examinemos agora Hebreus 9:24. Somos esclarecidos que o santuário, ou santo dos santos no tabernáculo, era um cópia do verdadeiro tabernáculo nos céus.
Em cada um desses versículos um elemento corresponde ao outro.
A contrapartida do tipo , a parte correspondente, é chamada de antítipo, ou seja, correspondente ao tipo.
Vamos examinar 1 Pedro 3:21. Neste versículo aprendemos que o batismo é um antítipo do dilúvio, ou seja, o dilúvio serviu como tipo, modelo, prefiguração do batismo. Nos dois casos a palavra significa julgamento; o dilúvio significou a morte para os perversos, e o batismo nas águas significa a morte de Cristo e a identificação do crente com ela. Notemos que a idéia de semelhança está presente.
Examinemos agora Hebreus 9:24. Somos esclarecidos que o santuário, ou santo dos santos no tabernáculo, era um cópia do verdadeiro tabernáculo nos céus.
Em 1 Timóteo 1:16 vemos que a completa longaminidade de Cristo, na vida de Paulo, serviria de exemplo para os que viessem a crer nele. Paulo usou o mesmo termo em 2 Timóteo 1:13.
Temos dois significados associados:
1- Exemplo ou modelo a ser seguido:
“Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (Jo. 13:15)
“…para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.” (Hb. 4:11)
“…para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.” (Hb. 4:11)
2- Sombra: Assim como uma sombra é a imagem produzida por um objeto, assim certos elementos do Antigo Testamento eram um esboço das coisas que haveriam de vir. Aparece três vezes no Novo Testamento com este sentido figurado.
“os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais…” (Hb. 8:5)
“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas…” (Hb. 10:1)
“…que são sombras das coisas vindouras…” (Cl. 2:16-17)
“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas…” (Hb. 10:1)
“…que são sombras das coisas vindouras…” (Cl. 2:16-17)
Uma sombra é algo vago ou transitório, mas também representa certa semelhança.
Cada um desses significados contém a idéia de correspondência ou semelhança. Porém nem sempre um tipo oficial no Antigo Testamento prefigura algo no Novo Testamento. Muitas vezes o sentido é de padrão ou modelo a ser seguido.
2 Quando o tipo é tipo?
2.1 Semelhança
A primeira característica de um tipo é a sua semelhança ou correspondência com o antítipo. Mas não devemos pensar de que se trata de uma correspondência superficial. Deve ser algo natural, e não uma correspondência forçada. Vimos nos exemplos anteriores a existência de uma semelhança concreta. Porém, nem tudo que possui um elemento correspondente é um tipo, embora a relação de semelhança e correspondência deva estar obrigatoriamente presente em todos os tipos. Existem inúmeros elementos no Antigo Testamento que encontram correspondência no Novo, mas não são tipos necessariamente. Os fatores que apresentamos a seguir também são importantes para a caracterização de determinação de um tipo.
2.2 Realidade histórica
Os fatos, personagens ou elementos do Antigo Testamento que são tipos de coisas do Novo possuíram realismo histórico, ou seja, realmente existiram e os fatos foram reais e testemunhados, não foi uma coisa imaginária. Quando em nosso estudo da Bíblia nos deparamos com um tipo não devemos inventar ou procurar significados ocultos. Devemos nos concentrar nos fatos históricos, pois o tipo deve surgir naturalmente no texto, ao invés de ser algo que o intérprete acrescente no texto. O tabernáculo é um tipo (conforme Hb. 8:5), mas isso não significa que cada detalhe de sua construção represente, de alguma forma, uma verdade neotestamentária.
2.3 Prefiguração
Os tipos são uma forma de profecia, pois contém traços de predição e simbolismos. O tipo é uma sombra que indica outra realidade (Cl. 2:17). O tipo sempre aponta para frente. Então quer dizer que as personagens do Antigo Testamento sabiam que diversas coisas eram tipos? Quando os israelitas matavam os cordeiros, eles sabiam que isso simbolizava Cristo, a quem João Batista referiu-se como “Cordeiro de Deus” (Jo. 1:29) ? Será que Melquisedeque sabia que ele representava a Cristo (Sl. 110:4; Hb. 6:20)?
É muito improvável que tivessem consciência dos antítipos (representação futura do tipo) e provavelmente não tinham pleno conhecimento destas relaçoes entre tipos e antítipos. O fato de alguns fatos e personagens fossem tipos isso não quer dizer que as pessoas dessa época reconhecessem essa natureza representativa.
2.4 Elevação
Na tipologia, o antítipo é sempre mais importante do que o tipo correspondente. Cristo é superior a Melquisedeque, a obra redentora de Jesus é superior à pascoa celebrada pelos judeus. Muitos aspectos do Novo Testamento ilustram verdades do Novo, mas se não houver esta elevação não se trata de tipos.
2.5 Planejamento divino
Os tipos não são meras ilustrações para que os leitores da Bíblia prestem mais atenção aos fatos. Na verdade esta correspondência foi planejada por Deus. O tipo foi idealizado por Deus para apresentar uma similaridade com o antítipo, que por sua vez foi criado por Deus para ser o “cumprimento” do tipo. Podemos crer que houve um planejamento de Deus, pois se passaram muitos séculos até que o antítipo pudesse “cumprir” aquilo que o tipo representava.
Na questão da interpretação dos tipos muitos estudiosos assumem posições diversas, conforme abaixo:
1- Tipos são apenas os que se encontram expressos no Novo Testamento
2- Tipos estão explícitos, mas também podem estar implícitos, não declarados.
Devemos ter o cuidado de não cairmos no mesmo erro de alguns intérpretes, de enxergar tipos implícitos (se assim exitirem) na Bíblia, gerando mais alegorias e interpretações errôneas da Bíblia. Não devemos confundir as figuras de linguagem, vistas anteriormente, com os tipos, que estamos estudando.
Nos tópicos seguintes vamos estudar como descobrir quais personagens, fatos e elementos devem ser tratados como tipos. Vamos descobrir com que finalidade Deus criou os tipos.
3 Os tipos devem ser encarados como tipos no NT?
Dadas as cinco características acima temos ainda de definir se os tipos são tanto os implícitos como explicitos ou apenas os expressamente declarados no NT. Devemos ter em mente que apenas correspondências não satisfazem a condição para se constituir um tipo. Sempre levemos em consideração o aspecto profético e o planejamento divino.
Um exemplo. Muitos estudiosos acreditam que Salomão simbolizasse Cristo. Podemos realmente afirmar que Deus nos conta a história de Salomão para retratar a Cristo?
Podemos claro, perceber algumas analogias e semelhanças, mas onde estão o aspecto profético e o planejamento divino?
Então como podemos estabelecer um limite para que simples semelhanças ou mesmo ilustrações não passem a ser entendidas como tipo?
Podemos estabelecer que o NT especifique claramente quais personagens e elementos do AT são prefigurativos do NT. O texto do NT deve indicar de alguma forma que determinado elemento ou personagem seja um tipo válido, ou de outra forma, deve ser rotulado. Ao contrário, as ilustrações e analogias podem ser mais facilmente identificáveis pelos estudiosos.
Um tipo pode ser definido como uma personagem ou acontecimento do AT que Deus planejou (projetou) para prefigurar ou preparar outro personagem ou acontecimento no NT.
Agora, uma ilustração é um acontecimento ou personagem que retrata uma verdade espiritual, com naturalidade e espontaneidade, sem no entanto, ser declarado como tipo no NT.
Com base nisso podemos por exemplo dizer que a Arca de Noé não é um tipo da Igreja, mas pode ser facilmente ilustrada como tal. Podemos dizer que o profeta Elias ilustra um homem de oração, conforme Tiago nos diz em seu livro no capítulo 5 verso 17.
Devemos ter cuidado, pois uma simples analogia não deve ser entendida como um tipo.
Notemos que na Ilustração e Tipologia a realidade histórica é considerada, ao passo que na Alegorização este aspecto é descartado. A alegoria geralmente é apenas fruto da imaginação de seu intérprete.
4 Que tipos são válidos?
Precisamos fazer as seguintes perguntas para sabermos quais os tipos válidos nas escrituras:
1. Existe semelhança clara entre o tipo e o antítipo? O tipo apresenta exatamente os mesmos fatos, princípios e relações que o elemento do NT correspondente?
2. O antítipo está de acordo com o contexto histórico do tipo?
3. O tipo é uma prefiguração ou prenunciação do antítipo? Ou não passa de um exemplo? O tipo aponta para o futuro?
4. O antítipo eleva ou “cumpre” o tipo, sendo ainda superior?
5. Conseguimos ver o propósito divino na relação tipo-antítipo?
6. O NT especifica de alguma forma o tipo e o antítipo?
5 Quais as etapas para a interpretação dos símbolos?
1. Descobrir o sentido literal do tipo.
2. Reparar no ponto de correspondência entre o tipo e o antítipo.
3. Repara
sexta-feira, 4 de março de 2016
O que é pregação expositiva?
O que é pregação expositiva?
A pregação expositiva é um método de pregação e um estilo homilético de exposição da palavra escrita de Deus (Bíblia) de modo fiel ao texto, no qual quem fala é a própria Palavra e faz com que o pregador se submeta à ação do Espírito Santo um verdadeiro servo da Palavra.
Na pregação expositiva o mais importante é a palavra de Deus, pois esse foi o modo que Deus escolheu para se revelar a humanidade e para produzir fé e intimidade com os seres humanos, sempre com a presença do Espírito Santo falando e convencendo os ouvintes. A Confissão de fé de Westminster, a última Confissão Reformada propõe essa dinâmica de ação entre o Espírito e a palavra de Deus:
“...todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.
Durante a história da Igreja de Cristo, muitos oradores santos usaram recursos e modelos de exposição da revelação de Deus. Devido à necessidade da mente humana os métodos de exposição e de ensino são necessários para que a Palavra seja entendida e possa ser praticada de forma relevante e concreta. Para isso uma argumentação sistemática e lógica é muito proveitosa na realização do ofício do pregador, pois o mesmo pode transmitir a verdade de Deus com muita eficiência e clareza.
“... a pregação expositiva tem o compromisso de explicar o texto da Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo, transmitindo aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra de Deus com aplicação pertinente”
Essa definição é muito clara no que pretende. Mostra o compromisso da pregação em explicar o texto bíblico para que os ouvintes possam tomar uma decisão de acordo com seu entendimento e disposição. O autor quer mostrar a integridade do método quando se crê que a intenção do pregador é falar da parte de Deus e fazer com que o povo conheça a sua vontade, sendo assim a pregação expositiva é simplesmente expor a Escritura com seu sentido original e aplicando seu conteúdo ao coração do homem contemporâneo.
Mesmo sendo um método nobre pelo que representa e faz na prática a pregação expositiva tem perdido seu valor em nossos púlpitos. Muitos pregadores evangélicos não sabem que método é esse e muito menos estão interessados em usá-lo devido sua falta de conhecimento e disposição para sua elaboração. É necessário considerar também que o desinteresse pela exposição em muitos casos acontece pelo desejo excessivo de crescimento numérico da igreja local ou por falta de conhecimento bíblico adequado.
É muito comum entre os membros nas igrejas e os pregadores de hoje acharem que tudo que se fala da Bíblia é exposição ou é pregação bíblica, mas isso pode ser uma falácia, pois tem surgido em grande número no seio da igreja cristã evangélica homens utilizando a palavra de Deus ou expondo um tema sobre a palavra de Deus, sendo assim em muitos lugares já desapareceu a exposição exegética e contextual.
Aqui é necessário se arriscar e dizer que em algumas igrejas locais Deus não tem falado mais, pois alguns pregadores estão usando a Bíblia para que eles mesmos possam falar e para que os ouvintes acreditem que a voz que estão ouvindo é a de Deus.
Alguns pregadores sérios têm chegado à conclusão de que as igrejas locais no campo religioso brasileiro precisam urgentemente de uma restauração em seus púlpitos e um retorno ao ensino homilético de qualidade e que o método expositivo é a melhor forma de alcançar esse objetivo.
O entendimento sobre a pregação expositiva deve estar bem claro nas mentes daqueles que têm sido vocacionados para o ministério da Palavra, pois a ordem ao vocacionado é: “prega a Palavra”.
O objetivo primário da pregação bíblica é levar a igreja à maturidade espiritual e ao crescimento saudável a fim de formar discípulos parecidos com Cristo. A pregação expositiva se propõe a isso, nesse caso a definição de Walter L. Liefeld é bem esclarecedora:
“Pregação Expositiva é explicação aplicada... A natureza essencial da pregação expositiva, portanto, é pregação que explica a passagem de uma maneira que leve a igreja a uma aplicação verdadeira e prática da passagem” (LIEFELD, 1985).
O conhecido “príncipe dos pregadores” Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era especialista na pregação textual, porém sua pregação textual era baseada em uma aplicada exegese e na explicação de algum texto específico. Percebe-se que até mesmo suas características temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns chamam hoje de pregação expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver claramente um grande cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon tinha uma habilidade muito grande nos estudos e na oratória, algo que não se aplica à maioria das pessoas e principalmente aos pregadores brasileiros. Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por esse brilhante pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de Deus existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da Psicologia, Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos da oração, exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das Escrituras.
A pregação expositiva se baseia no labor e na busca intensa de expor um texto mais extenso de acordo com o contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os tópicos oferecidos pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta aos ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese sobre Pregação Bíblica diz:
“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, aos seus ouvintes”
A pregação deve ser em sua essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas um instrumento a ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador deve ser explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece que esse é o desejo de Deus, quando declara :“...assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto das Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que pregação expositiva é simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua estrutura se limita às porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a autoridade de inserir seu próprio tema e suas idéias ao texto, pois o próprio lhe concede todas as partes do sermão e toda a estrutura necessária para que seja explicado.
Cada porção exegética em nossas Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os temas e tópicos necessários para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo com que o pregador se atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o contexto e não tome o lugar do próprio texto.
A pregação expositiva contemporânea
A pregação nos dias atuais está sendo deixada de lado ou alguns meios de comunicações a têm substituído, vários são os argumentos e alguns até convincentes diante de uma análise sociológica de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma declaração que revela o que alguns pastores têm pensado em relação à pregação:
“Os profetas da desgraça na igreja de hoje estão predizendo, com confiança, que já se passaram os dias da pregação. Dizem que é uma arte que está morrendo, uma forma de comunicação que está fora de moda...” (Stott, 2003, p. 51).
O mundo está em constante mudança, o pragmatismo religioso que em alguns anos atrás não era parte do campo religioso brasileiro agora é visível em todos os lugares e está no cotidiano religioso se manifestando nas liturgias modernas e conferências sobre crescimento da igreja, liderança e outras atividades desse tipo.
As estruturas organizacionais estão sendo formadas tendo em vista um crescimento como nunca visto antes, técnicas de liderança e marketing tem sido implantadas como uma espécie de “boom” do momento, a cada dia surgem movimentos vindos do Norte para implantarem novos modelos de crescimento. Em alguns movimentos eclesiásticos a teologia da Missão Integral, o pastorado de visitação e aconselhamento estão sendo extremamente ridicularizados e menosprezados como algo estranho e sem valor, pois esses trabalhos não produzem números e status para a igreja local.
Os líderes da atualidade não se preocupam mais com a edificação e a qualidade da igreja local, pois seus sonhos estão em mega-igrejas e lindos templos; o desejo único em seus corações é crescimento a todo custo, a frase favorita é: “precisamos preparar a igreja para crescer”.
É impressionante como os líderes cristãos estão se parecendo mais com os homens de negócios do que com homens santos, piedosos e compromissados com Deus. Uma pessoa não cristã expressou essa percepção, relatando: “porque será que tenho a impressão que quando estou sentado ao lado de um Monge parece que estou ao lado de um santo e, quando estou ao lado de um Pastor parece-me que estou ao lado de um homem de negócios”. Essa impressão não é nada irreal, pois há hoje em dia pastores que passam a maior parte do tempo com assuntos administrativos e burocráticos, alguns nem conhecem mais seu rebanho e as dificuldades que enfrentam.
A idéia de ir ao encontro da ovelha parece absurda, as ovelhas é que precisam correr atrás do pastor e marcar horário, se o mesmo encontrar um espaço na agenda, tudo bem, se não a ovelha precisa esperar ou procurar outro pastor que esteja desocupado. “Pastores muito ocupados não tem tempo para suas ovelhas e nem para cuidar do rebanho do Senhor”.
Se os pregadores estão motivados com essa mentalidade suas pregações são preparadas com idéias do mesmo tipo, a leitura bíblica não é feita com o propósito de saber a vontade de Deus e alimentar o rebanho, mas é feita para conseguir resultados em seus empreendimentos “cristãos”. Seus métodos de pregações servem aos desejos do público e caminham em direção ao que dá certo; como afirma John MacArthur:
“Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios pragmáticos” (MACARTHUR, 2007, p.6).
Há algum tempo atrás um pastor, professor de homilética em uma missão quando perguntaram se ele ensinava o método expositivo à resposta foi: “ensino um pouco de tudo, pois as coisas estão mudadas”.
A resposta tem em si uma verdade pedagógica que deve ser analisada, mas o significado por trás dessas palavras ilustra a idéia de nossos pregadores contemporâneos, a pregação tem que ser uma espécie de “fast food” e precisa estar de acordo com o planejamento, se o objetivo é crescer ou construir todos os esforços na pregação serão dirigidos a isso. Na linguagem desses pregadores contemporâneos se alguém quiser alcançar as pessoas será necessário usar métodos que satisfaçam e agradam os ouvintes.
No livro Religião de Poder, quando Alister McGrath argumenta sobre o culto da personalidade ele faz uma leitura da realidade muito apropriada afirmando:
“O surgimento do teleevangelismo e ministérios de pregação tem levado a um culto crescente de personalidades dentro do evangelismo de poder. Isso é verdade não apenas nos ministérios de mídia como também nas apresentações que celebridades cristãs fazem regularmente em eventos e megaigrejas. Não é o que as Escrituras ensinam que realmente importa; mas o que fulano de tal tem a testemunhar comigo sobre suas experiências e idéias. Até mesmo para alguns pastores, não é o que dizem as Escrituras, mas o que o pregador disse que dizem as Escrituras, que tem verdadeira importância. Muitas vezes a Bíblia é totalmente ignorada; o que vale é o que Deus está dizendo agora pessoalmente a esse pregador...” (HORTON, 1998, p. 249).
Quantos pregadores estão sendo influenciados em cursos de liderança secular e aprendendo uma espécie de oratória que mexe com as emoções do público e métodos de persuasão e controle. Hoje é muito comum líderes que conhecem mais sobre neurolinguística, psicanálise e outras coisas do gênero do que conhecem a Escritura e a Teologia Cristã, infelizmente essa é a realidade de muitas igrejas e líderes cristãos.
A pregação contemporânea é caracterizada pela superficialidade e jogos de interesses, os modernos métodos de administração eclesiástica e os grandes empreendimentos religiosos roubaram o tempo de pastores e pregadores. O pregador gasta mais tempo no computador ou administrando as finanças e problemas da igreja do que com a palavra de Deus e a oração.
Essas atitudes têm dominado aqueles que são chamados para serem ministros da Palavra e tudo que se ouve em nossos púlpitos são resultados do dia a dia desses pregadores e não a genuína palavra de Deus como revelada nas Escrituras, essa é entendida pelo pregador no quarto da oração em secreto com Deus e no púlpito transborda do coração do pregador ao rebanho sedento e necessitado do alimento celestial; a palavra de Deus que edifica o cristão e salva o perdido.
Precisamos urgentemente restaurar o método expositivo na pregação contemporânea, os pregadores cristãos evangélicos precisam voltar à palavra de Deus, investir tempo em seus estudos e orações. A única maneira de edificar a igreja local e conduzir o rebanho ao conhecimento de Deus é levando os pregadores à Palavra e ensiná-los a expor os desígnios de Deus criando pontes para o mundo contemporâneo, com fidelidade e amor à Palavra.
A pregação expositiva contemporânea deve ser uma pregação centrada na Escritura, pois, segundo Jesus Cristo somente pelas Escrituras o conheceremos verdadeiramente, assim o Mestre orienta: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim (João 5:39 – ARA)”. A pregação é bíblica e cristocêntrica quando as verdades de Deus e de Cristo é pregada conforme revelada nas Escrituras.
Também a pregação não pode ser uma exposição morta baseada em uma tradição religiosa ultrapassada e sem sentido, apenas para se defender uma postura denominacional. Mas deve ser relevante para o dia a dia das pessoas ao qual Deus está falando e interessado em edificar e transformar.
O problema não está na pregação contemporânea em si, mas nos métodos usados e na maneira como a palavra de Deus é negociada tanto nos métodos como nas novas estruturas eclesiásticas.
A pregação expositiva e a palavra de Deus
A pregação expositiva como já foi visto se propõe a explicar e aplicar o texto bíblico de forma íntegra e autêntica, recebendo assim o título de pregação bíblica.
Com essa definição podemos meditar sobre qual é a relação desse método com a palavra de Deus (Bíblia), quero esclarecer, mesmo que seja possível deduzir do texto acima.
O Senhor Jesus quando expunha um texto fazia-o como se sua exposição fosse a própria palavra de Deus, todo seu ministério foi o ministério da Palavra.
Lucas registra uma de suas exposições, onde Jesus faz uma exposição do livro de Isaías:
“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele...”(Lc 4:16-20-NVI).
Segundo o costume judaico lê-se uma porção da Escritura, explica e aplica a porção, foi isso que Jesus fez. A diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto profético se deu no fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato bíblico o cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na vida de Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus continua ministrando e faz uma exposição mais longa para provar sua Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-los e aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a esse método deixando claro que a exposição fiel da palavra de Deus é a palavra de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos como em Atos dos Apóstolos 2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação dirigida pelos Apóstolos e discípulos eram exposições das Escrituras, toda estrutura do discurso era tirada das Escrituras e apresentadas com aplicação direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas responsabilidades como verdadeiros dispenseiros.
Os reformadores foram os homens que mais elaboraram conceitos profundos sobre a palavra de Deus. Sempre quando alguém escreve ou fala de pregação esse não pode deixar de lado uma das afirmações teológicas mais importantes para reforma protestante e posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura – a supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente todos os reformadores pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando toda a Bíblia ou expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João Calvino (1997, p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta por excelência:“A nossa única necessidade é a de não ter em vista nenhum outro objetivo além do desejo sincero de só fazer o bem. Assim devemos também proceder no tocante à exposição da Escritura”.
Os textos bíblicos sobre pregação deixam claro que a pregação é a palavra de Deus, somente quando ela é bíblica e expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica queremos dizer que todo seu conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto. Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas idéias ou formular uma pregação temática com versos isolados fora de contexto. Paulo está tendo em vista o que tinha dito anteriormente na carta ao escrever no terceiro capítulo, que: “TodaEscritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a palavra que deve ser pregada é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-gramatical e de seu propósito para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus evitando que o mesmo tire suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem volta, deixando de lado o que Deus quer falar.
Conclusão:
A pregação expositiva é sem dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de Deus, a Bíblia continua sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e conduzí-los à vida eterna.
A Palavra nos fornece todas as técnicas de crescimento e princípios de liderança que precisamos, o homem de Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou informações empresariais para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é que cuida de sua igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala na Escritura.
O que a liderança atual precisa na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira pregação e amor por essa Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.
A pregação expositiva é um método de pregação e um estilo homilético de exposição da palavra escrita de Deus (Bíblia) de modo fiel ao texto, no qual quem fala é a própria Palavra e faz com que o pregador se submeta à ação do Espírito Santo um verdadeiro servo da Palavra.
Na pregação expositiva o mais importante é a palavra de Deus, pois esse foi o modo que Deus escolheu para se revelar a humanidade e para produzir fé e intimidade com os seres humanos, sempre com a presença do Espírito Santo falando e convencendo os ouvintes. A Confissão de fé de Westminster, a última Confissão Reformada propõe essa dinâmica de ação entre o Espírito e a palavra de Deus:
“...todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.
Durante a história da Igreja de Cristo, muitos oradores santos usaram recursos e modelos de exposição da revelação de Deus. Devido à necessidade da mente humana os métodos de exposição e de ensino são necessários para que a Palavra seja entendida e possa ser praticada de forma relevante e concreta. Para isso uma argumentação sistemática e lógica é muito proveitosa na realização do ofício do pregador, pois o mesmo pode transmitir a verdade de Deus com muita eficiência e clareza.
“... a pregação expositiva tem o compromisso de explicar o texto da Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo, transmitindo aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra de Deus com aplicação pertinente”
Essa definição é muito clara no que pretende. Mostra o compromisso da pregação em explicar o texto bíblico para que os ouvintes possam tomar uma decisão de acordo com seu entendimento e disposição. O autor quer mostrar a integridade do método quando se crê que a intenção do pregador é falar da parte de Deus e fazer com que o povo conheça a sua vontade, sendo assim a pregação expositiva é simplesmente expor a Escritura com seu sentido original e aplicando seu conteúdo ao coração do homem contemporâneo.
Mesmo sendo um método nobre pelo que representa e faz na prática a pregação expositiva tem perdido seu valor em nossos púlpitos. Muitos pregadores evangélicos não sabem que método é esse e muito menos estão interessados em usá-lo devido sua falta de conhecimento e disposição para sua elaboração. É necessário considerar também que o desinteresse pela exposição em muitos casos acontece pelo desejo excessivo de crescimento numérico da igreja local ou por falta de conhecimento bíblico adequado.
É muito comum entre os membros nas igrejas e os pregadores de hoje acharem que tudo que se fala da Bíblia é exposição ou é pregação bíblica, mas isso pode ser uma falácia, pois tem surgido em grande número no seio da igreja cristã evangélica homens utilizando a palavra de Deus ou expondo um tema sobre a palavra de Deus, sendo assim em muitos lugares já desapareceu a exposição exegética e contextual.
Aqui é necessário se arriscar e dizer que em algumas igrejas locais Deus não tem falado mais, pois alguns pregadores estão usando a Bíblia para que eles mesmos possam falar e para que os ouvintes acreditem que a voz que estão ouvindo é a de Deus.
Alguns pregadores sérios têm chegado à conclusão de que as igrejas locais no campo religioso brasileiro precisam urgentemente de uma restauração em seus púlpitos e um retorno ao ensino homilético de qualidade e que o método expositivo é a melhor forma de alcançar esse objetivo.
O entendimento sobre a pregação expositiva deve estar bem claro nas mentes daqueles que têm sido vocacionados para o ministério da Palavra, pois a ordem ao vocacionado é: “prega a Palavra”.
O objetivo primário da pregação bíblica é levar a igreja à maturidade espiritual e ao crescimento saudável a fim de formar discípulos parecidos com Cristo. A pregação expositiva se propõe a isso, nesse caso a definição de Walter L. Liefeld é bem esclarecedora:
“Pregação Expositiva é explicação aplicada... A natureza essencial da pregação expositiva, portanto, é pregação que explica a passagem de uma maneira que leve a igreja a uma aplicação verdadeira e prática da passagem” (LIEFELD, 1985).
O conhecido “príncipe dos pregadores” Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era especialista na pregação textual, porém sua pregação textual era baseada em uma aplicada exegese e na explicação de algum texto específico. Percebe-se que até mesmo suas características temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns chamam hoje de pregação expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver claramente um grande cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon tinha uma habilidade muito grande nos estudos e na oratória, algo que não se aplica à maioria das pessoas e principalmente aos pregadores brasileiros. Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por esse brilhante pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de Deus existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da Psicologia, Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos da oração, exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das Escrituras.
A pregação expositiva se baseia no labor e na busca intensa de expor um texto mais extenso de acordo com o contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os tópicos oferecidos pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta aos ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese sobre Pregação Bíblica diz:
“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, aos seus ouvintes”
A pregação deve ser em sua essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas um instrumento a ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador deve ser explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece que esse é o desejo de Deus, quando declara :“...assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto das Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que pregação expositiva é simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua estrutura se limita às porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a autoridade de inserir seu próprio tema e suas idéias ao texto, pois o próprio lhe concede todas as partes do sermão e toda a estrutura necessária para que seja explicado.
Cada porção exegética em nossas Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os temas e tópicos necessários para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo com que o pregador se atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o contexto e não tome o lugar do próprio texto.
A pregação expositiva contemporânea
A pregação nos dias atuais está sendo deixada de lado ou alguns meios de comunicações a têm substituído, vários são os argumentos e alguns até convincentes diante de uma análise sociológica de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma declaração que revela o que alguns pastores têm pensado em relação à pregação:
“Os profetas da desgraça na igreja de hoje estão predizendo, com confiança, que já se passaram os dias da pregação. Dizem que é uma arte que está morrendo, uma forma de comunicação que está fora de moda...” (Stott, 2003, p. 51).
O mundo está em constante mudança, o pragmatismo religioso que em alguns anos atrás não era parte do campo religioso brasileiro agora é visível em todos os lugares e está no cotidiano religioso se manifestando nas liturgias modernas e conferências sobre crescimento da igreja, liderança e outras atividades desse tipo.
As estruturas organizacionais estão sendo formadas tendo em vista um crescimento como nunca visto antes, técnicas de liderança e marketing tem sido implantadas como uma espécie de “boom” do momento, a cada dia surgem movimentos vindos do Norte para implantarem novos modelos de crescimento. Em alguns movimentos eclesiásticos a teologia da Missão Integral, o pastorado de visitação e aconselhamento estão sendo extremamente ridicularizados e menosprezados como algo estranho e sem valor, pois esses trabalhos não produzem números e status para a igreja local.
Os líderes da atualidade não se preocupam mais com a edificação e a qualidade da igreja local, pois seus sonhos estão em mega-igrejas e lindos templos; o desejo único em seus corações é crescimento a todo custo, a frase favorita é: “precisamos preparar a igreja para crescer”.
É impressionante como os líderes cristãos estão se parecendo mais com os homens de negócios do que com homens santos, piedosos e compromissados com Deus. Uma pessoa não cristã expressou essa percepção, relatando: “porque será que tenho a impressão que quando estou sentado ao lado de um Monge parece que estou ao lado de um santo e, quando estou ao lado de um Pastor parece-me que estou ao lado de um homem de negócios”. Essa impressão não é nada irreal, pois há hoje em dia pastores que passam a maior parte do tempo com assuntos administrativos e burocráticos, alguns nem conhecem mais seu rebanho e as dificuldades que enfrentam.
A idéia de ir ao encontro da ovelha parece absurda, as ovelhas é que precisam correr atrás do pastor e marcar horário, se o mesmo encontrar um espaço na agenda, tudo bem, se não a ovelha precisa esperar ou procurar outro pastor que esteja desocupado. “Pastores muito ocupados não tem tempo para suas ovelhas e nem para cuidar do rebanho do Senhor”.
Se os pregadores estão motivados com essa mentalidade suas pregações são preparadas com idéias do mesmo tipo, a leitura bíblica não é feita com o propósito de saber a vontade de Deus e alimentar o rebanho, mas é feita para conseguir resultados em seus empreendimentos “cristãos”. Seus métodos de pregações servem aos desejos do público e caminham em direção ao que dá certo; como afirma John MacArthur:
“Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios pragmáticos” (MACARTHUR, 2007, p.6).
Há algum tempo atrás um pastor, professor de homilética em uma missão quando perguntaram se ele ensinava o método expositivo à resposta foi: “ensino um pouco de tudo, pois as coisas estão mudadas”.
A resposta tem em si uma verdade pedagógica que deve ser analisada, mas o significado por trás dessas palavras ilustra a idéia de nossos pregadores contemporâneos, a pregação tem que ser uma espécie de “fast food” e precisa estar de acordo com o planejamento, se o objetivo é crescer ou construir todos os esforços na pregação serão dirigidos a isso. Na linguagem desses pregadores contemporâneos se alguém quiser alcançar as pessoas será necessário usar métodos que satisfaçam e agradam os ouvintes.
No livro Religião de Poder, quando Alister McGrath argumenta sobre o culto da personalidade ele faz uma leitura da realidade muito apropriada afirmando:
“O surgimento do teleevangelismo e ministérios de pregação tem levado a um culto crescente de personalidades dentro do evangelismo de poder. Isso é verdade não apenas nos ministérios de mídia como também nas apresentações que celebridades cristãs fazem regularmente em eventos e megaigrejas. Não é o que as Escrituras ensinam que realmente importa; mas o que fulano de tal tem a testemunhar comigo sobre suas experiências e idéias. Até mesmo para alguns pastores, não é o que dizem as Escrituras, mas o que o pregador disse que dizem as Escrituras, que tem verdadeira importância. Muitas vezes a Bíblia é totalmente ignorada; o que vale é o que Deus está dizendo agora pessoalmente a esse pregador...” (HORTON, 1998, p. 249).
Quantos pregadores estão sendo influenciados em cursos de liderança secular e aprendendo uma espécie de oratória que mexe com as emoções do público e métodos de persuasão e controle. Hoje é muito comum líderes que conhecem mais sobre neurolinguística, psicanálise e outras coisas do gênero do que conhecem a Escritura e a Teologia Cristã, infelizmente essa é a realidade de muitas igrejas e líderes cristãos.
A pregação contemporânea é caracterizada pela superficialidade e jogos de interesses, os modernos métodos de administração eclesiástica e os grandes empreendimentos religiosos roubaram o tempo de pastores e pregadores. O pregador gasta mais tempo no computador ou administrando as finanças e problemas da igreja do que com a palavra de Deus e a oração.
Essas atitudes têm dominado aqueles que são chamados para serem ministros da Palavra e tudo que se ouve em nossos púlpitos são resultados do dia a dia desses pregadores e não a genuína palavra de Deus como revelada nas Escrituras, essa é entendida pelo pregador no quarto da oração em secreto com Deus e no púlpito transborda do coração do pregador ao rebanho sedento e necessitado do alimento celestial; a palavra de Deus que edifica o cristão e salva o perdido.
Precisamos urgentemente restaurar o método expositivo na pregação contemporânea, os pregadores cristãos evangélicos precisam voltar à palavra de Deus, investir tempo em seus estudos e orações. A única maneira de edificar a igreja local e conduzir o rebanho ao conhecimento de Deus é levando os pregadores à Palavra e ensiná-los a expor os desígnios de Deus criando pontes para o mundo contemporâneo, com fidelidade e amor à Palavra.
A pregação expositiva contemporânea deve ser uma pregação centrada na Escritura, pois, segundo Jesus Cristo somente pelas Escrituras o conheceremos verdadeiramente, assim o Mestre orienta: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim (João 5:39 – ARA)”. A pregação é bíblica e cristocêntrica quando as verdades de Deus e de Cristo é pregada conforme revelada nas Escrituras.
Também a pregação não pode ser uma exposição morta baseada em uma tradição religiosa ultrapassada e sem sentido, apenas para se defender uma postura denominacional. Mas deve ser relevante para o dia a dia das pessoas ao qual Deus está falando e interessado em edificar e transformar.
O problema não está na pregação contemporânea em si, mas nos métodos usados e na maneira como a palavra de Deus é negociada tanto nos métodos como nas novas estruturas eclesiásticas.
A pregação expositiva e a palavra de Deus
A pregação expositiva como já foi visto se propõe a explicar e aplicar o texto bíblico de forma íntegra e autêntica, recebendo assim o título de pregação bíblica.
Com essa definição podemos meditar sobre qual é a relação desse método com a palavra de Deus (Bíblia), quero esclarecer, mesmo que seja possível deduzir do texto acima.
O Senhor Jesus quando expunha um texto fazia-o como se sua exposição fosse a própria palavra de Deus, todo seu ministério foi o ministério da Palavra.
Lucas registra uma de suas exposições, onde Jesus faz uma exposição do livro de Isaías:
“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele...”(Lc 4:16-20-NVI).
Segundo o costume judaico lê-se uma porção da Escritura, explica e aplica a porção, foi isso que Jesus fez. A diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto profético se deu no fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato bíblico o cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na vida de Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus continua ministrando e faz uma exposição mais longa para provar sua Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-los e aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a esse método deixando claro que a exposição fiel da palavra de Deus é a palavra de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos como em Atos dos Apóstolos 2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação dirigida pelos Apóstolos e discípulos eram exposições das Escrituras, toda estrutura do discurso era tirada das Escrituras e apresentadas com aplicação direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas responsabilidades como verdadeiros dispenseiros.
Os reformadores foram os homens que mais elaboraram conceitos profundos sobre a palavra de Deus. Sempre quando alguém escreve ou fala de pregação esse não pode deixar de lado uma das afirmações teológicas mais importantes para reforma protestante e posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura – a supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente todos os reformadores pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando toda a Bíblia ou expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João Calvino (1997, p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta por excelência:“A nossa única necessidade é a de não ter em vista nenhum outro objetivo além do desejo sincero de só fazer o bem. Assim devemos também proceder no tocante à exposição da Escritura”.
Os textos bíblicos sobre pregação deixam claro que a pregação é a palavra de Deus, somente quando ela é bíblica e expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica queremos dizer que todo seu conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto. Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas idéias ou formular uma pregação temática com versos isolados fora de contexto. Paulo está tendo em vista o que tinha dito anteriormente na carta ao escrever no terceiro capítulo, que: “TodaEscritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a palavra que deve ser pregada é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-gramatical e de seu propósito para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus evitando que o mesmo tire suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem volta, deixando de lado o que Deus quer falar.
Conclusão:
A pregação expositiva é sem dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de Deus, a Bíblia continua sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e conduzí-los à vida eterna.
A Palavra nos fornece todas as técnicas de crescimento e princípios de liderança que precisamos, o homem de Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou informações empresariais para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é que cuida de sua igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala na Escritura.
O que a liderança atual precisa na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira pregação e amor por essa Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.
quinta-feira, 3 de março de 2016
Um sinal claro de maturidade cristã
Um sinal claro de maturidade cristã
Acredito que todos nós sabemos que, como cristãos, estamos destinados a crescer e amadurecer. Nós iniciamos na fé como crianças e precisamos nos desenvolver até sermos adultos. Os autores do Novo Testamento insistem que todos nós devemos fazer esta transição, do leite para a carne, da mesa das crianças para os jantares de adulto. E apesar de estarmos cientes que devemos passar por este processo de amadurecimento, muitos de nós tendem a medir maturidade de formas erradas. Somos facilmente enganados. Eu acho que isso é especialmente verdade em uma tradição como a Reformada, que (com razão) coloca uma forte ênfase no ensino e nos fatos da fé.
Quando Paulo escreveu a Timóteo, ele fala sobre a natureza e propósito da Bíblia: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16-17). A palavra perfeito está relacionada à maturidade. Paulo diz que Timóteo, e por extensão eu e você, somos incompletos, inacabados e imaturos. A Bíblia é o meio que Deus usa para nos finalizar e completar, trazendo-nos à maturidade.
Mas o que significa ser um Cristão maduro? Penso que tendemos a acreditar que os Cristãos maduros são aqueles que sabem um monte de coisas sobre a Bíblia. Cristãos maduros são aqueles que têm sua teologia de cor e salteado. Mas veja o que Paulo diz: “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Paulo não diz: “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e conhecedor da Bíblia de trás para frente”, ou “Afim de que o homem de Deus seja perfeito e capaz de explicar e definir o supralapsarianismo versus o infralapsarianismo.” Ele não diz: “Afim de que o homem de Deus seja perfeito e capaz de prover um esboço estruturado de cada uma das epístolas de Paulo.” Todas essas coisas são boas, mas elas não são a ênfase de Paulo. Elas podem ser sinais de maturidade, mas também podem mascarar imaturidade.
Quando Paulo fala sobre perfeição e maturidade, ele aponta para ações, para atitudes, para “toda boa obra”. A Bíblia tem o poder de nos amadurecer, e conforme nos comprometemos a leitura, compreensão e obediência, necessariamente crescemos na fé. Essa maturidade é mais evidenciada nas boas obras que fazemos do que no conhecimento que recitamos. E isso é exatamente o que Deus quer de nós – que sejamos maduros e benfeitores amadurecidos que se deleitam em fazer o bem para os outros. Essa ênfase em boas obras é um tema significante no Novo Testamento (veja Efésios 2.10, Tito 2.14, etc) e a própria razão pela qual Deus nos salvou.
Isso significa que maturidade espiritual é melhor evidenciada em atos do que em fatos. Você pode saber tudo que existe sobre teologia, você pode ser uma teologia sistemática ambulante, você pode gastar uma vida inteira ensinando outros em um seminário, e mesmo assim ser completamente imaturo. Você irá permanecer sendo imaturo se aquele conhecimento que você acumulou não te motiva a fazer o bem para os outros. Os Cristão maduros são aqueles que glorificam à Deus fazendo o bem para os outros, que externalizam seu conhecimento em boas obras.
É claro que fatos e ações tem relação entre si, de modo que isto não é um apelo para negligenciar a leitura, o estudo e o entendimento da Bíblia. De modo nenhum! Quanto mais você conhece da Bíblia, mais você pode ensinar, reprovar, corrigir e treinar a si mesmo de uma forma que modele suas ações a te incentivar a fazer as melhores obras da melhor forma pela melhor razão. Mais conhecimento de Deus através de sua Palavra deveria conduzir a um maior e melhor serviço aos outros.
Mas, no fim das contas, Cristo viveu e morreu para “remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.14). Conhecimento de Deus e sua Palavra é bom. Conhecimento de Deus e sua Palavra manifestado externamente, fazendo aquilo que beneficie outros – não há nada que glorifique mais a Deus que isso.
Deus não deve bens materiais aos cristões fiéis
Deus não deve bens materiais aos cristões fiéis
Há uma filosofia popular hoje em dia correndo no meio cristão que diz que tanto quanto o cristão é fiel mais próspero ele será. Essa filosofia dá o entender que Deus quer abençoar os seus fiéis com um acúmulo exagerado de bens materiais. Essa filosofia insinua se um irmão não tem muitos bens é porque ele não é muito fiel, a sua fé é fraca ou por que Deus está castigando ele publicamente por um pecado secreto no passado. Convém uma comparação dessa filosofia com a própria bíblia e ver o que é que Deus deve ao cristão fiel.
Nosso Engano
É claro para o aluno sério da Bíblia que facilmente o homem pecador pode ser enganado. Procedem do seu próprio coração, que é a fonte da sua vida (Prov. 4:23), “os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição e, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mat. 15:19). Por causa do pecado, considerando o coração, o homem não tem muito a se gloriar. O seu coração é enganoso “mais do que todas as coisas, e perverso” ao ponto de nunca conhecer a profundidade do seu próprio engano (Jer. 17:9).
Não é só o coração do homem pecador que pode ser enganado, mas também o do cristão. Quando o cristão é regenerado ele recebe uma nova natureza que não pode pecar (I João 5:18). Através dessa nova natureza o cristão tem prazer na lei de Deus. Porém, a sua velha natureza continua ativa nele conjuntamente. Essa velha natureza, a carne, cobiça contra a nova natureza, o Espírito, impedindo a obediência completa (Romanos 7:11-25; Gal. 5:17). Existem na bíblia inúmeros casos de cristãos, e até de igreja inteiras errando e assim nos dando provas convincentes que o homem cristão pode ser bem enganado (Adão e Eva, Gên. 3:6; Davi, II Sam 11; Jonas; Ananias e Safira, Atos 5; as igrejas da Ásia, Apoc 2,3).
No assunto dos bens materiais, o engano do coração do homem é bem evidente. O que o homem pode ver, sentir, tocar e possuir influencia ele em muito. A concupiscência da carne, junto com o enganoso coração do homem, influencia os pensamentos do homem acerca de seu Deus e exercita uma ação não boa sobre o homem quando ele quer entender passagens bíblicas. Tal predomínio é evidenciado quando o homem começa de pensar que Deus o deve muitos bens materiais.
O engano do coração dos homem é entendido até pela lógica. Se é verdadeiro que a quantia de bens materiais exemplifica o favor com Deus, então os da classes mais altas da sociedade devem ser os mais espirituais. Porém, a verdade é que o oposto é geralmente verdadeiro (Luc. 21:1-4; I Cor. 1:26-29). A verdade declarada da bíblia é: “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mat. 19:24). O espiritualidade maior não traz maior riqueza, nem a riqueza traz maior espiritualidade. O espiritualidade traz uma morte maior à carne e tudo o que é do mundo (Gal. 2:20; I João 2:16). A riqueza traz tentação, e um laço, e muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (I Tim 6:9). O reino de Deus não é deste mundo (João 18:36). A espiritualidade verdadeira é a imagem de Cristo no cristão (Romanos 8:29; 14:17).
E além da lógica, temos o mandamento de Cristo de não ajuntar tesouros da terra mas no céu (Mat. 6:19-21). Deve ser claro a todos os cristãos que ninguém deve esperar que Deus nos dê grandes tesouros na terra quando o ajuntamento de tais tesouros já é proibido por Ele.
O anseio de adquirir muitos ou melhores bens do que já temos, é relacionado diretamente com o nosso grau de contentamento. Pode ser que a falta de contentamento é o que impulsiona a crença popular hoje em dia que Deus deve ao cristão fiel muitos bens materiais. A predisposição do homem ser descontente é entendido pelo provérbio: “Como o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do homem nunca se satisfazem” (Prov. 27:20). O contentamento com o que tem não é um comportamento natural do homem mas é um comportamento dos maduros na fé (Fil. 4:11, “… Já aprendi a contentar mim com o que tenho.”). A espiritualidade, que nos ensina a termos costumes sem a avareza, é completamente contente com as promessas de Deus de nunca nos deixar e nunca nos desamparar (Hebreus 13:5). Este grau de espiritualidade, junto com o contentamento, é verdadeiramente um “grande ganho” do cristão (I Tim 6:6-8). Os bens materiais, sejam poucos ou muitos, para o cristão verdadeiro, são imateriais para sua felicidade na terra.
Nossa Instrução
O Salmo 23 pode ser o usado por alguns a nos ensinar que Deus nos deve bens materiais pois é declarada abertamente: “Nada me faltará” (v. 1). Muitos podem querer dizer que os “verdes pastos”, as “águas tranqüilas”, a mesa farta na presença dos inimigos e o cálice transbordando deste Salmo apontam à verdade que Deus sempre se interessa em encher o Seus com bens materiais. Mas, comparando versículo com versículo entendemos que as bênçãos de ser uma ovelha deste pastor traz possessões muito além daqueles bens materiais que a traça e a ferrugem consomem e aqueles que os ladrões podem mirar e roubar.
A bíblia nos diz que Cristo é o “Bom Pastor” (João 10:11,14). A bíblia também nos ensina o que é que o “Bom Pastor” dá às suas ovelhas. A bíblia não nos ensina que o “Bom Pastor” necessariamente veste as suas ovelhas com a última moda nem fornece transporte moderno nem prometa saúde plena. O que o bom pastor dá às Suas ovelhas é a Sua vida (João 10:11, 15, “… Dou a minha vida pelas ovelhas.”). Ele veio justamente para dar a Sua vida, para que pela Sua vida, os seus “tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10; I Tim 1:16, “Cristo Jesus de veio ao mundo, para salvar os pecadores”; Luc. 19:10, “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.”). Para ninguém duvidar da natureza desta vida abundante que Cristo dá, Ele ensinou enfaticamente que Ele dá às suas ovelhas “a vida eterna” (João 10:28). O fato desta vida por Cristo ser eterna, segura, celestial, sem nenhuma condenação é o que Ele refere quando declara que essa vida é “abundante”. Mesclar a razão da vinda de Cristo ao mundo com o nosso acúmulo de mais e melhores bens materiais é fazer desrespeito ao decreto eterno de Deus para o seu Filho vir ao mundo e é distorcer o propósito das profecias que nos ensinem acerca desta vinda de Cristo. Interpretar as palavras de Jesus a dizer que Deus quer que nos ajunte tesouros na terra é invalidar o seu propósito principal (Mat. 15:6).
As ovelhas do “Bom Pastor” não se preocupam do dia de amanhã, não ajuntam tesouros na terra, nem gritem desenfreadamente pedindo riquezas.Elas se satisfazem em ouvir a Sua voz(Sal 1:2,3, “tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na Sua lei medita de dia e de noite.”). A ovelha que é cuidada pelo “Bom Pastor” é satisfeita com Ele(Sal. 119:57, “O SENHOR é a minha porção;”). A ovelha deste “Bom Pastor” não está procurando prazeres do mundo que satisfazem à carne, mas seguem Ele (João 10:27, “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;”). Enquanto as ovelhas seguem o “Bom Pastor” elas acham pastagens que alimentam as suas almas (João 10:9; Sal. 16:5, “O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; Tu sustentas a minha sorte.”; Col. 3:10, “E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;”; II Cor. 4:8-18, “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.”; Efés. 4:23,24, “E vos renoveis no espírito da vossa mente;”). Entendendo bem essas verdades podemos afirmar: quando estamos tristes por falta de alguma coisa na terra, somos realmente descontentes com o próprio “Bom Pastor” e com o Seu propósito eterno para conosco.
Tanto o propósito de Cristo vir, quanto o desejo de Deus para com os Seus é de e espiritual e não físico. Deus quer que os Seus se transformam na imagem do Seu Filho (Romanos 8:29). Para obter este objetivo Deus pode, sem danificar qualquer propósito da bíblia, e sem ter propósitos de castigo ou ira, sujeitar os Seus a humilhação, a fome, a várias tentações e tribulações (Deut 8:3; Tiago 1:3,4; Romanos 5:4,5).
Se já conhece o “Bom Pastor” e sabendo que Ele conhece bem as Suas ovelhas, regozije no fato que não falta nada para o que é melhor para elas. O que era melhor para elas é de ser aceitável diante de Deus e para crescer na Sua imagem (Fil. 2:13; I Pedro 3:18; Judas 24,25).
Muitos querem usar Isaías 53:5, “… e pela suas pisaduras fomos sarados” para ensinar que pela morte de Cristo somos sarados de qualquer enfermidade física enquanto trilharmos o nosso caminhar terrestre. Usem também Tiago 5:16, “orar uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” Não descontando o fato que Deus pode ainda curar e ainda é um Deus de milagres, devemos lembrar uns fatos importantes quando falamos do propósito da salvação por Cristo.
Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos contentes.” (I Tim 6:6-8); “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hebreus 13:5).
A promessa do Senhor ao fiel Cristão é: segundo as Suas riquezas, suprir todas as suas necessidades (Fil. 4:19). A capacidade de Deus é imensa sem a menor dúvida. Para o fiel cristão Deus opera para que ele abunda em toda a graça e que tem sempre “toda a suficiência” e não satisfazer todas as possibilidades de adquirir bens da terra (II Cor. 9:8). O cristão, como qualquer outro ser humano, tem necessidades de comer, de beber e de vestir-se. Deus também sabe que o cristão tem estas necessidades. Ele promete que aquele que busca primeiramente o Seu reino e a Sua justiça, todas essas necessidades serão acrescentadas (Mat. 6:25-33). Se o cristão fiel está procurando por algo além de ter as suas necessidades suprimidas ele está procurando por mais que o Senhor prometeu.
Uma maneira de ter o que necessitamos é pela liberalidade para com a obra de Deus (II Cor. 9:7,8; Mal 3:10-12). Usando o que temos para a glória do Senhor traz as bênçãos do Senhor sobre o que já temos. Também uma maneira de ter o que necessitamos é pelo trabalho honesto (II Tess 3:10, “se alguém não quiser trabalhar, não coma também”; Prov. 13:11, “ mas quem a ajunta com o próprio trabalho a aumentará”; Ecl. 2:24; 3:13; Atos 18:3, Paulo “trabalhava”; I Tess 4:11,12, “trabalhar com vossas próprias mãos”; Efés. 4:28, “fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.”). Podemos observar que as próprias aves do céu que o Pai celestial alimenta têm que voar em busca do que Deus intenta providenciar para elas (Mat. 6:26). Quando honramos ao Senhor com os nossos bens com uma primeira parte de todos os nossos ganhos Ele não será mesquinho com as bênçãos dEle (Prov. 3:9,10). Porém, o que buscamos do Senhor e o que esperamos dEle nunca deve ser um acúmulo exagerado de bens materiais. Ele é a porção do cristão fiel e essa Porção satisfaz completamente o servo fiel (Lam. 3:24). Conhecendo o Senhor intimamente basta para qualquer cristão mesmo quando a liberalidade e o trabalho com as mãos não faz que haja sobras (II Cor. 12:9, “a minha graça que basta”).
O nosso alvo principal deve ser a obtenção da imagem de Cristo e não os bens temporais. O propósito de toda a obra da salvação é para que sejamos “conforme à imagem de Seu filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos”, (Romanos 8:29). O cristão fiel tem o alvo principal de ter os seus passos dirigidos nos caminhos do Senhor e não de ter as suas raízes bem estabelecidas no mundo (Sal. 17:5; Prov. 30:7-9). Por causa do alvo principal da salvação ser de fazer nos conforme à imagem de Cristo podemos entender o erro da filosofia que diz: tanto mais fiel à Deus, mais riquezas teremos.
Cristo ensinou-nos a buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça (Mat. 6:33). O reino de Deus “não é deste mundo” (João 18:36). O reino de Deus “não vêem com a aparência exterior” (Luc. 17:20) nem “é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17; Col. 1:13). O reino de Deus é de ter Cristo como o seu Salvador e Senhor. Este reino de Deus é o observado numa pessoa quando ele se arrependa dos pecados e tem fé em Cristo como o seu Salvador. Este reino de Deus é evidenciado ainda mais pela obediência da palavra de Deus (João 17:17; Mat. 7:24,25). Este é reino de Deus luta contra a carne (Romanos 7:18, 23; Gal. 5:17), mortifica a carne (Gal. 2:20) e busca para as coisas que são de cima e não nas coisas que são da terra (Col. 3:1-3).
Na carta à igreja em Laodicéia, uma igreja com a suas raízes bem estabelecidas no mundo enquanto achava que era espiritual, Cristo aconselhou: “que de Mim compres ouro provado no fogo para que enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas” (Apoc 3:18). Tudo o que o cristão fiel precisa para cumprir a sua razão de existir na terra é de ter a imagem de Cristo nele. E isso é o que Cristo quis dizer quando aconselhou: “compres de Mim”. Ajuntar bens na terra é cansativo e trabalhoso (Ecl. 2:26), mas viver Cristo cumpra o desejo de Deus para os Seus e é o caminho para as bênçãos espirituais.
Destaco novamente: Os bens materiais, sejam poucos ou muitos, para o cristão verdadeiro, são imateriais para sua felicidade na terra.
Você tem o principal que é a imagem de Cristo na sua vida? A sua preocupação maior é o que é eterno e espiritual? Semear para a carne, dará em corrupção (Gal. 6:8). “Que aproveita ao homem a ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mat. 16:26). E, se tenha Cristo, o que falta? (Sal. 23:1). Que possa conhecer as bênçãos de Deus por Cristo tanto aqui quanto no além é o nosso desejo.
Assinar:
Postagens (Atom)